terça-feira, 26 de abril de 2011

Fahrenheit 451

A temperatura em que o papel queima e o título de um ótimo filme (e livro)!

Fahrenheit 451, livro de Ray Bradbury, publicado em 1953, cujo filme foi lançado em 1966, narra a história de uma sociedade onde os livros são proibidos e qualquer opinião própria é duramente reprimida. Uma sociedade onde os bombeiros provocam incêndios ao atear fogo nos livros e são os expoentes da repressão, censurando toda e qualquer opinião formada pela pessoa e que não venha do meio de comunicação em massa mais popular da sociedade, a televisão.

O filme, um tanto surrealista, com um visual futurista, mas imaginado em 1966, soa meio que estranho... Mas não deixa a desejar. Veja alguns trechos:



Tal tema, destruição dos livros, é recorrente na história humana, desde a antiguidade, ainda com os rolos de papiro o meio mais eficiente de apagamento da memória de um povo é destruir toda a sua cultura, a começar, hoje, pelos livros, como foram os papiros, tábuas de argila e códices de ontem... Uma vez um professor indagou qual seriam um dos primeiros locais bombardeados em caso de uma guerra? A resposta, por mais estranha que possa soar, são biblioteca nacional, arquivo nacional e museu nacional - ou seus equivalentes -, pois são nesses locais de memória, que se preserva a cultura de um país ou um povo. E numa guerra, onde o objetivo é destruir o outro, nada mais "normal" do que destruir o inimigo e também exterminar a sua história, acabar com a sua memória... Não por acaso, o exército americano atingiu "sem querer" umas três vezes a Biblioteca Nacional do Iraque, destruindo ou deixando em pedaços a história de uma civilização de mais de 5 mil anos... As imagens dos saques aos bens culturais de Bagdá são emblemáticas e retratam bem o que quero dizer.

Outro marco iconográfico que pode ser interpretado da mesma maneira, é a derrubada da estátua de Sadam. Por mais que demonstre o poderio bélico americano, um símbolo de "quem manda", é, também, um símbolo do apagamento da memória que aquele monumento possa representar.

Se hoje os cientistas, historiadores, arqueólogos e outros lutam para entender o calendário Maia, é porque os colonizadores espanhóis foram extremamente eficientes no quesito "apagamento de memória", pois destruíram todos os meios de entendimento das culturas maia, inca e asteca - incluindo os seus livros... Se hoje temos um quebra-cabeça imenso, mais ou menos do tamanho da América Latina, grande parte se deve à intolerância dos espanhóis (e por que não, portugueses, já que os registros indígenas também foram destruídos).

Voltando aos livros e ao filme... Se você não quer saber o final dele, pare de ler aqui, caso contrário continue...

Tem certeza de que quer continuar???


OK, então!


No final do filme, Montag, a personagem principal da história, se refugia numa floresta, onde residem os chamados "Homens Livro", nela, cada habitante, deveria ler um livro, decorá-lo e depois... Queimá-lo... Ao decorar o livro, o homem assume como sua identidade o título do livro, sendo assim, John (inventei um nome qualquer...) se torna Cândido (obra de Voltaire), e assume o compromisso de repassá-lo para seus semelhantes. Sendo assim, o "Homem Livro" nada mais representa do que a resistência, a vontade de não esquecer, o lembrar e eternizar.

Para saber mais, temos o livro de Fernando Baez, "História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra do Iraque" e um que não lembro o título e que irei postar assim que lembrar... =]

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