sexta-feira, 17 de junho de 2011

Salvaguarda da memória

No post do dia 15/06 (Link) a reportagem que trata de como os arquivos dos processos da ditadura foram preservados é bem interessante.

Para quem ainda não viu a reportagem, ela trata da digitalização e publicação na web de imagens de processos da ditadura que foram fotografados e enviados para o exterior por dois advogados, se não me engano.

Enquanto discute-se a abertura ou não dos arquivos, um meio alternativo de preservação da memória criado por essas duas pessoas, permitiu que vários relatos chegassem até nós. Nesse sentido, podemos observar alguns exemplos, como o diário de Anne Frank, que é um item emblemático, pois narra a tentativa de sobrevivência em meio a perseguição nazista e serve de instrumento para que os bastidores do holocausto sejam melhor compreendidos. Fenômeno esse que ainda acontece hoje, pois os diários ainda são uma importante fonte de estudos sobre o cotidiano e sobre a memória social.

Nesse contexto, externar a memória é um meio de recordar e um meio de preservar, já que a capacidade de memória humana é limitada e acabamos selecionando o que devemos ou não lembrar. Bem como a discussão acerca dos arquivos, pois o que o governo quer, é dizer o que devemos ou não recordar - se bem que isso sempre foi feito, mas isso será um tópico abordado mais a frente (espero).

Logo, como acontece conosco quando uma lembrança surge sem que necessariamente queiramos, ela também surge na sociedade, mesmo contra a vontade dos que mandam, ou você acha que todos os setores da sociedade querem as memórias reveladas, como no projeto do Arquivo Nacional, citado, também, no post do dia 15?

O desejo de memória, o qual Jô Gondar fala em seu texto Lembrar e esquecer: desejo de memória, parece ser, por vezes, maior do que a vontade do grupo dominante ou maior do que o desejo de esquecimento...

Assim, preservar, conservar, manter, guardar pode ajudar a desvelar histórias ainda não reveladas, afinal a memória é um meio de perpetuação.

PS: O texto Lembrar e Esquecer: desejo de memória, encontrasse no livro: Memória e Espaço, organizado pela Icléia Thiessen Costa e Jô Gondar, publicado pela Sete Letras em 2000.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ainda sobre a problemática da legitimação da memória

Foi publicado ontem (15 de junho) no Blog do Noblat no jornal O Globo o seguinte texto:

"Atentado contra a História do país (Editorial)
O Globo

Um dos indicadores da qualidade de um regime democrático é em que medida a sociedade tem acesso a informações de interesse público sob a guarda do Estado. Quanto maior a dificuldade nesse acesso, mais autoritário o regime, cujas características são o distanciamento e a desconfiança entre o poder público e os cidadãos.

O Brasil, um país de longa tradição de Estado unitário, não tem bom histórico neste aspecto. Daí até hoje não se poder consultar documentos sobre a Guerra do Paraguai, travada no século XIX, encerrada há 141 anos. Trata-se de um crime contra a memória nacional.

Coerente com o atual processo de consolidação da democracia no país, quando se completam 26 anos ininterruptos de estado de direito, recorde na República, tramita no Senado a Lei de Acesso à Informação Pública.

Enviado ao Congresso em 2003, no início do governo Lula, o projeto de lei moderniza as regras de consulta a essas informações e aproxima o Brasil, neste aspecto, de países desenvolvidos e democráticos.

A lei cria três níveis de restrição: documentos reservados (cinco anos de sigilo); secretos (15 anos) e ultrassecretos (25), com a possibilidade de uma renovação de prazo em cada nível. Assim, o máximo que um arquivo do Estado ficará hermeticamente fechado será por 50 anos.

É razoável, se considerarmos que os Estados Unidos acabam de liberar arquivos da Guerra do Vietnã 36 anos depois do encerramento do conflito. Mesmo assim, com 11 palavras censuradas, uma prerrogativa também aceitável do Estado.

Mas o país pode recuar para a velha opacidade com que os políticos brasileiros costumam proteger suas biografias, funcionais ou não, e instituições se colocam acima da sociedade, caso o governo Dilma de fato aceite o inaceitável e acolha o veto dos ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney, do Itamaraty e das Forças Armadas à nova lei.

Todos desejam manter o sigilo eterno. Trata-se de uma excrescência, inadequada a um país democrático. O que temem ex-presidentes, o Itamaraty e as Forças Armadas causar, ou enfrentar, quando seus arquivos forem abertos 50 anos depois de terem sido classificados e trancafiados?

A mais poderosa nação do planeta esperou apenas 36 anos para permitir consultas sobre uma guerra em que foram cometidas atrocidades capazes, é muito provável, de superar o que se esconde nos registros sobre a entrada de tropas brasileiras no Paraguai.

É a certeza de que terá informações sobre a sua gestão abertas à sociedade que ajuda a enquadrar os governantes no padrão mais adequado da ética. Realimenta a democracia americana, por exemplo, o fato de Sarah Palin ter de fornecer à imprensa, por força de lei, os e-mails despachados do seu gabinete quando era governadora do Alasca.

Caso o governo Dilma Rousseff se curve ao veto, será, também, de extrema incoerência com o que prega em relação aos arquivos dos porões da ditadura militar.

Quem defende a constituição da Comissão da Verdade, para familiares de mortos e desaparecidos nos 
Anos de Chumbo saberem o destino dos parentes, não pode aceitar a perpetuação do sigilo eterno em informações do Estado. No mínimo, será cúmplice da censura de partes da História brasileira."

A matéria pode ser vista no seguinte link: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=386496&ch=n

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Liberar ou restringir? A problemática da legitimação da memória

Duas reportagens bem legais sobre a temática de abertura de arquivos foram veiculadas no jornal da Globo do dia  13 de junho. As matérias são essas:


"Documentos da época da ditadura estarão disponíveis na internet".

E

"Governo retira caráter de urgência da votação do projeto sobre acesso a dados públicos".

Dar acesso e negar acesso, essas são as temáticas das duas reportagens respectivamente. A primeira mostra como a memória de um povo, no caso o brasileiro, pode ser salva graças a pequenos atos que visam preservar parte da história do social. Mesmo que sejam fragmentos, tais relatos já nos servem de meio para pelo menos recontar parte da história. Não lembro ao certo, mas Baudrillard ou Benjamin nos fala que a reconstrução da história geralmente é quase perfeita, só não a é porque advém de fragmentos e esses nada mais são do que partes incompletas.

Porém, não contar com o todo é uma coisa, outra totalmente diferente é ter o todo e não poder ter acesso a ele, como é o caso do tema da segunda reportagem, na qual uma proposta do Senador e ex-Presidente José Sarney, visa classificar documentos como secretos durante o tempo que ele existir!

Parece absurdo, e é, como diz o Ancelmo Góis, parece-me algo como tortura misturado com humor negro, afinal, o que o (FDP) ilustre senador quer fazer é não nos dar acesso ao que por direito é nosso, a história e memória do Brasil e de suas instituições.

Já não basta a briga entorno dos arquivos da ditadura, se devem ou não ser liberados para consulta? E a questão, na minha visão, é bem política: como permitir acesso a documentos que provam que grandes autoridades brasileiras ainda vivas apoiaram o golpe ou ajudaram a matar milhares de pessoas? A conclusão que tiro é que só liberarão o acesso quando todos os envolvidos estiverem mortos e nenhum responsável possa mais ser julgado por seus atos. Nada mais cômodo do que construir, a seu modo, a história, sem que várias memórias conflitantes possam discordar, opinar, discutir, enfim, fazer o seu papel que é dar subsídios para a construção da história. E o que nos restará será, talvez, a idéia de Revolução e não de Golpe, ou seja, a história dos Oficiais...

Fiquemos atentos, pois, na minha visão, no mundo todo os países onde foram instauradas ditaduras foram atrás dos fatos reais, nem sempre oficiais, e os puniram aqueles que cometeram crimes, torturaram, mataram, roubaram, enfim, promoveram as maiores atrocidades. Foi assim com Pinochet no Chile, e por que não pode ser no Brasil? Ah, talvez seja porque somos um país sem memória...

PS: o texto acima é criação minha e eu assumo o que disse!
PS 2: O Arquivo Nacional tem um projeto interessante, o Memórias Reveladas, vale a pena conferir. Inclusive o lema do projeto é "Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça" - Frase brilhante essa!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Da importância de uma boa resposta


Vamos imaginar a seguinte cena: você vai à uma Biblioteca pois precisa consultar um livro, ou um documento, ou um mapa, enfim... Você precisa de uma informação ou dado que está naquele item. Daí inicia-se o diálogo:

- Bom dia, estou fazendo uma pesquisa sobre Y e gostaria de saber se vocês tem o livro Z.
No que o responsável pelo atendimento, seja ele um bibliotecário ou um auxiliar, responde:
- Não, não temos...
E assim, frustrado, você vai embora, tentando imaginar onde poderia achar tal item.

Peraí... Não está faltando algo nessa conversa? O usuário foi a um local esperando uma resposta e tudo o que ele obtém é um "Não, não temos..."??? Acredito que se o Bibliotecário, como já falei em alguns posts, é o responsável por promover o encontro entre o usuário e a informação que ele precisa, porque ele responde apenas com um "Não, não temos...". Creio que após essa frase poderiam ser adicionadas algumas palavrinhas que podem acabar com a frustração do "não", essas, talvez sejam "... mas em tal lugar você pode encontrar" ou ainda "mas você já olhou no site tal, lá pode ter alguma coisa.". Não significa que o usuário certamente irá encontrar o que deseja lá, mas pelo menos você tentou ajudá-lo a encontrar!

Lembro que por diversas vezes ao longo da minha carreira, seja como estagiário, seja como bibliotecário formado, busquei responder da melhor forma possível para que  o "não" soasse menos doloroso para o usuário. Para isso, sempre busquei conhecer sites e acervos de bibliotecas para que a minha função de bússola, em meio à toda a informação produzida, fosse efetiva e não apenas figurativa. Um exemplo:


Quando trabalhava na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional estava no balcão de atendimento quando chegou um pesquisador buscando informações sobre escravos (relações de nomes, seus "proprietários" etc). Após busca na base de dados da Divisão, a resposta que temia apareceu: "Senhor, nós não temos tal documentação...", porém, não fiquei satisfeito em apenas falar isso e indaguei: "O senhor já foi ao Arquivo Nacional? Lá eles possuem mais documentos relativos a escravos do que nós.", no que ele respondeu: "Arquivo Nacional? Onde fica isso? É sério que lá posso encontrar algo nesse sentido?", respondi afirmativamente e expliquei a ele como chegar ao Arquivo Nacional. Não sei o resultado final, se ele encontrou ou não o que buscava, mas pelo menos dei a ele a esperança de encontrar o que desejava.

Para poder dar essa informação, foi necessário que eu conhecesse, pelo menos minimamente, o acervo do Arquivo Nacional e ter a vontade de não se contentar em dar como resposta o "não". Assim, na entrevista de referência, o bibliotecário deve cuidar para que a sua função seja a de adicionar informações à pesquisa e não de colocar um ponto final nela.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fahrenheit 451 [2]

Lembra quando comentei do filme Fahrenheit 451? Se não lembra confira clicando aqui.

Pois é, a editora Globo, lançou uma nova versão desse clássico, só que como Graphic Novel, a descrição da obra diz:


"Farenheit 451 é uma das maiores obras-primas de ficção científica de todos os tempos (ou seria, se se tratasse, de fato, de ficção científica). E ganha agora uma versão em quadrinhos de altíssimo nível gráfico por Tim Hamilton – autorizada e avalisada por Ray Bradbury na introdução. Além da qualidade gráfica, o texto, com a impactante narração do personagem principal, é diretamente calcado na novela original.

451 graus Farenheit, ou 233 graus Celsius, é a temperatura de combustão do papel comum. Logo, dos livros. E os livros são os instrumentos que “incendeiam” as ideias. A sociedade de Farenheit 451, porém, é uma sociedade que preza acima de tudo a paz.

O caminho da paz, para ela, passa por dois elementos fundamentais: um, material, o outro, espiritual. Materialmente, trata-se de suprir as necessidades básicas dos cidadãos. Nessa sociedade afluente e racional, todos vivem em casas confortáveis, vestem-se e se alimentam satisfatoriamente, têm empregos e contam, para se entreter, com úbiquas telas de TV, por onde participam interminavelmente de programas interativos (o livro foi escrito nos anos 1940, o que o torna terrivelmente premonitório). Mas a satisfação material não garante a paz social se houver insatisfação espiritual. Isto é, se existirem a imaginação, a fantasia, os questionamentos, as alternativas. Tudo aquilo de que os livros são depositários.

Os livros são, portanto, proibidos. Porém proibir os livros não elimina os já publicados. Para isso existem os bombeiros, agentes especializados em localizar livros escondidos e em queimá-los in loco (não há necessidade de agentes para combater incêndios, pois as casas, ao contrário das mentes, são agora a prova de fogo). Felizmente, bombeiros com lança-chamas não podem queimar a memória..."

Vi a matéria sobre na Folha e fui ao site da Editora Globo conferir!

PS: Quero comprar! =]

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sobre ler e escrever

Bom, desculpe-me a ausência ao longo das últimas semanas, mas estava com dois trabalhos extras bem extensos, um deles é (pois ainda não acabei) a confecção de cerca de 300 mini biografias de personalidades sulamericanas do início do século XX e o outro foi formatar, conforme a ABNT, e revisar o texto de um Trabalho de Conclusão de Curso, o mais legal é que ambos tem como pano de fundo as Relações Internacionais. Tal tarefa me lembra o post que fiz sobre como o bibliotecário deve se comportar no século XXI (confira aqui).

Porém, o assunto desse post não é esse, mas tem como pano de fundo tais tarefas. A revisão textual do trabalho de conclusão de curso me chamou a atenção para uma coisa que geralmente não damos muito valor: como a forma de escrita influencia na construção e desenvolvimento do texto e contribui de forma decisiva para o melhor entendimento dele.


O exercício da escrita é uma tarefa difícil, pois envolve não só o que você quer falar, mas também como isso será dito de forma que outros possam compreender.

Mas o que leitura tem a ver com isso? Na minha visão, somente lendo que podemos aperfeiçoar a nossa escrita, pois é dessa forma que aprendemos novas palavras, assimilamos novos métodos de escrita e exercitamos o diálogo com o outro, pois a escrita é feita para que possamos nos comunicar e fazer entendidos.

Pode parecer besteira, mas quanto mais lemos, melhor escrevemos.