segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre paixão, futebol e identidade

Final do ano, o Brasileirão acabou, o Corinthians foi campeão, o Vasco foi vice (de novo) e o Santos também. O Barcelona é considerado o maior de todos pelo menos até a primeira semana de janeiro e assim vamos...

Nesta semana também, o Flamengo comemorou 30 anos do seu título mundial, conseguido pela melhor geração que já jogou na Gávea e um dos melhores times do mundo (palavras da imprensa).

Eu, que nasci em 1985, não tive o prazer de ver esse time jogar, mas dizem que ele era demais, algo como um Barcelona de hoje... Se for verdade, perdi a chance de ver o maior time do Flamengo e creio que nunca mais verei um assim... Mas vai lá saber...

Porém, por mais que tenha nascido 4 anos após a conquista do mundo pelo Flamengo, carrego comigo toda a sua história e me orgulho dela e assim é o torcedor, torcedor é aquele que absorve a história do clube ao qual torce e faz dela a sua.

Tenho saudades de tempos que não vi, de ídolos que sequer conheci, mas que sei que honraram a camisa do meu clube! Afinal, usar a camisa de um clube não um estilo, como alguns retardados dizem. É na verdade uma afirmação identitária, é um laço que une a pessoa ao clube, é uma declaração de amor e afeto por aquelas cores.

O Barcelona é o maior exemplo disso, não sendo apenas um clube, mas o maior expoente na luta Catalã contra a coroa espanhola representada por Madrid ou melhor, pelo Real Madrid. O Barcelona é mais que um clube, é uma afirmação de identidade Catalã pregada desde a tenra idade, afinal, ele é acima de tudo, um clube Catalão e não um clube espanhol...


Outro exemplo: é muito comum você ver no Rio, minha cidade natal, pessoas que são cariocas e que torcem por clubes de outros estados serem massacrados diante de frases do tipo "por quê???"; "para de sacanagem!"; "fala sério"; "você prefere torcer por um paulista filho da puta???" etc... Afinal, no Rio temos o Flamengo, o Botafogo, o Vasco e o Florminense Fluminense, além de América, Bangu, Madureira, Olaria, São Cristóvão e outros...

Então por que escolher um time de outro estado? Tal atitude soa como uma afronta ao ideal de identidade regional, afinal, ser carioca vem em primeiro lugar, em segundo vem o time para o qual a pessoa torce e depois o resto, assim sendo, a paixão pelo clube não é sem propósitos, ela visa a afirmação e têm relação direta com a nossa identidade, a nossa identificação, a nossa história e memória, afinal, sempre lembramos de títulos que não vimos, ídolos que já se foram e temos templos consagradas à veneração e a exposição das nossas paixões... O Maracanã é sem dúvidas o maior exemplo... Palco da tragédia de 1950, mas também de várias vitórias memoráveis, onde Garrincha, Pelé, Zico, Nilton Santos e outros desfilaram... Porém, hoje está em ruínas com a desculpa de uma reforma para a Copa... (mas não entraremos no mérito, afinal, isso é papo para outro post)


Não é a toa que todo clube tem um museu, onde são ostentados os seus maiores triunfos, as suas maiores glórias, onde a afirmação de si se faz presente na exaltação do passado e no planejamento do futuro, afinal, nem sempre o ganhar títulos tem a ver com torcer, se fosse assim, o Santa Cruz, recém promovido à Série C, estaria com uma média de torcida pífia ao invés dos 50 mil que lotam o Arruda pra celebrar a paixão pelo clube e honrar a sua história...

Por fim, torcer é mais do que um ato, é uma escolha relacionada a quem somos e com o que e quem nos identificamos...

PS: optei por colocar uma imagem do Camp Nou e da torcida do Barcelona para não polemizar com o arco-íris outros torcedores
PS 2: observem que o Maracanã está vazio!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Bibliotecas ou depósitos?

Volta e meia nos deparamos com notícias desoladoras sobre acervos achados em meio à escombros, livros raros jogados fora ou destruídos pelo descaso etc.

Ao que parece nós, brasileiros, não ligamos muito para as bibliotecas e à elas atribuímos pouco valor.

Ontem fiquei sabendo, por meio de conversas informais, que a Biblioteca Luiz Viana Filho ou apenas, Biblioteca do Senado terá a sua atual sede no Anexo II do Senado, em Brasília, mudada para um galpão num ponto mais distante - a transferência só não foi confirmada ainda porque um senador pediu vistas ao processo de transferência, creio que por considerar a situação absurda...

A biblioteca do Senado é uma das mais antigas e importantes do país, sua missão é se tornar referência mundial na Biblioteconomia Legislativa e dar suporte às necessidades informacionais dos nossos legisladores. Sua fundação se deu em 1826 e desde então viu sua coleção ser enriquecida por várias doações e aquisição de obras raras e importantes para a memória nacional, após a inauguração de Brasília, deixa para trás o Palácio Monroe no Rio, e vai o Palácio do Congresso, até chegar ao Anexo II.


Ao tirar a biblioteca do Anexo II, a direção já tem ciência de que o cidadão que não trabalha no senado não poderá mais ter acesso às obras que compõem o seu acervo, ou seja, tal fato acarretará que a missão principal da biblioteca, que é de disseminar a informação à todos, não será mais cumprida, ficando seu rico e vasto acervo restrito aos funcionários do Senado e nossos legisladores...

A questão aí, parece ser maior do que realmente parece e tem relação direta com o universo Biblioteconômico, afinal, é responsabilidade de nós, bibliotecários, zelarmos pelas bibliotecas. Porém, o cenário que vemos é seguinte - claro que com algumas exceções.

O Bibliotecário é aquele profissional estigmatizado pelo óculos, roupa fora da moda, cabelo desgrenhado, solteiro, dono de um bicho (geralmente um gato), que adora livros e... Do sexo feminino. Creio que poucos de nós se encaixaram nesse perfil (eu tenho o gato e sou solteiro... M-E-D-O), mas é assim que a sociedade vê os bibliotecários e mais, as bibliotecas são vistas como depósitos de coisas velhas, um local para o castigo e para colocar os incapacitados mentalmente ou fisicamente de continuar suas atividades (vide professores), a biblioteca é o local da poeira, das pessoas chatas, de nerds e coisas retrôs, tipo máquinas de escrever, carimbos e antigos fichários...

Mas será que essa é nossa realidade atual? Creio que não, mas por que nossos chefes, administradores, gestores, enfim, continuam a pensar assim?

Pode ser impressão minha, mas creio que seja porque nós, bibliotecários, não nos impomos como aquele capaz de levar qualquer um à informação que deseja. Nos satisfazemos em ser citados nas páginas de agradecimentos, quando na verdade deveríamos também fazer parte das páginas de referência! Temos que defender "nossas" bibliotecas com unhas, dentes, livros e poeira! Afinal, fomos preparados para saber o que de melhor uma biblioteca pode oferecer, desenvolver suas potencialidades, criar produtos e serviços e integrar as bibliotecas ao conceito tecnológico do século XXI.

Será que nossas bibliotecas não estão da forma que estão porque não nos empenhamos em defendê-las? Na maioria das vezes temos medo do que um enfrentamento pode representar, mas acho que devemos ao menos tentar.

Eu tentei defender a minha biblioteca, reafirmei perante todos o meu juramento: "Prometo tudo fazer para preservar o cunho liberal e humanista da profissão de Bibliotecário, fundamentado na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana" e assim briguei e continuarei brigando para fazer uma Biblioteconomia melhor e mais ativa, afinal... É uma verdade que me orgulho de ser Bibliotecário e isso vale muito, mas muito mesmo!

Esclarecimentos

Boa tarde leitores,
Após um bom tempo sem post, eis que volto a publicar, porém, antes de mais nada permita-me justificar a minha ausência:

Nos últimos meses estava me preparando para a seleção do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UnB e por isso o tempo para postagens não existiu...

Ontem, após prova, entrevista e avaliação do projeto de pesquisa recebi o resultado final do processo e...

FUI APROVADO! =D

Estou muito feliz e espero que a experiência possa render mais e mais posts para o blog.

Ahhhhh, quem quiser saber mais sobre o meu projeto basta visitar o blog http://relatosdememoria.blogspot.com/

Até mais!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Caco e a questão da identidade e identificação

Sabe aquele sapo verde do Muppets Babies (antigo seriado de TV, aquele do Gonzo...)???


O Caco? Dirão vocês... Sim, mas sabia que a Disney resolver padronizar o nome de seus personagens e Caco, o sapo, virou Kermit??? O nome em inglês dele...

Pois é, por mais inocente que tal atitude possa parecer isso pode significar pra Disney, ao menos na minha concepção, um prejuízo enorme, pois é quase certo que o desinteresse por parte do público que já conhece e é fã do boneco verde entre em voga contra essa tal Kermit...

Mas não são a mesma personagem? Dirão vocês... No que respondo: Será???

Nunca fui apresentado, em toda a minha vida a esse tal de Kermit, sempre conheci o Caco... Tal ação da Disney, ao meu ver, significa tirar a identificação público com a personagem, acabar com a identidade criada entre o telespectador e o Caco...

Imagina, se de uma hora pra outra resolvêssemos parar de chamar a geladeira de geladeira e passássemos a chamá-la de Big White??? A identificação, a significação que atribuímos àquele objeto, ser, imagem é descaracterizado e não há mais a interação entre ele e nós...

O pior é a desculpinha veiculada na TV para tal ato, algo a ver com um espirro... Veja abaixo...


O Caco sempre será o Caco, mas esse tal de Kermit, ainda irei conhecer...

PS: revolta com a mudança de imagens da infância, a gente também vê no Poeira... =]

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Produção científica

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo (Língua portuguesa esconde produção científica nacional), a produção científica nacional vem sendo pouco divulgada (citada) em relação aos outros países do mundo por conta do uso majoritário do Português como opção na escrita dos artigos e livros.

Segundo a reportagem, algumas publicações que tornaram-se bilíngues ou optaram pelo inglês como padrão estão tendo como resultado o aumento de citações em textos estrangeiros, o que é bom para a divulgação das pesquisas nacionais.


Acredito, realmente, que a produção nacional deva seguir padrões internacionais, porém o português não deve ser desprezado, uma publicação bilíngue seria mais acertada, mas a reportagem diz que é muito cara, entretanto, algumas áreas já obtiveram sucesso na normalização, como as de saúde e naturais, onde os nomes técnicos utilizados são em latim. Meu receio se dá pelo fato de o Mandarim já estar se tornando a linguagem dos negócios e que em algum tempo poderá se tornar a nova linguagem da ciência, por isso, creio que, talvez, seja a hora de sentarmos e discutirmos o melhor meio de escrever a ciência...

sábado, 10 de setembro de 2011

Os tipos móveis e Gutenberg

Interessante matéria publicada ontem no "O Globo" relata novas descobertas com relação aos tipos móveis, ou seja, sobre a invenção da imprensa, veja a reportagem no link: http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/09/09/padeiros-de-letras-925324723.asp


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Registros do Conhecimento - o Livro

O LIVRO[1]

Livro, do latim Liber, é, modernamente, uma reunião de cadernos de papel, com textos tipograficamente impressos, costurados entre si e brochados ou encadernados. O livro é, em suma, um conjunto de elementos de comunicação gráfica que contém idéias, descrições ou referências a vários assuntos com o propósito de divulgar informações ou preservar o registro de fatos de qualquer natureza. Acredita-se que liber em latim, primitivamente significava a casca de certos vegetais que se apresentavam de forma laminada. Embora remota, a origem do conceito não antecede a invenção pelo homem da representação gráfica das idéias, isto é, da escrita. Não somente as cascas das árvores, mas também a pedra, o bronze, as tábuas de madeira, a placa de argila foram utilizadas no passado remoto como materiais para o livro. Em todas as civilizações com literatura escrita, o livro sempre foi instrumento fundamental para a difusão e preservação da cultura.[2]

A história do livro começa juntamente, como vimos acima, com a invenção da escrita (mais ou menos do século IV a. C.), mas ainda não da forma como conhecemos. Os primeiros registros do conhecimento que tiveram como meio de expressão a escrita foram talhados em tábuas de argila na antiga Mesopotâmia, porém apenas alguns desses registros chegou ao nosso tempo e hoje estão expostos em museus ao redor do mundo.


Contudo, em conjunto com a sociedade, os registros do conhecimento só se aperfeiçoaram, passando pela escrita em pergaminho, no Egito, onde um tipo de papel sensível feito a partir da planta de mesmo nome e muito comum no Vale do Nilo era usada para fazer papel. Este era em forma de rolo, não existindo a divisão por páginas.

Alguns séculos depois, foi a vez do pergaminho se popularizar, e foi aí que o livro ganhou o formato no qual o conhecemos, chamado códice, que consiste numa série de folhas cortadas ou dobradas entre duas capas de couro ou madeira. O pergaminho origina-se do uso do couro de diversos animais para a confecção de um papel de excelente qualidade e resistência.

Porém todos os processos acima descritos referem-se ao livro Manuscrito – livro criado artesanalmente e escrito e ornamentado a mão. Os monges copistas eram os grandes  disseminadores de tal formato, porém, a capacidade de reprodução dos livros era baixa, e a produção bibliográfica idem, tendo em vista o tempo que demanda escrever ou copiar inúmeras páginas, além do trabalho de ornamentação das páginas.

Porém, no século XV, Johannes Gutenberg[3] cria a prensa de tipos móveis, que veio facilitar a criação de reprodução dos livros. Com tal advento a velocidade com que os textos eram produzidos e reproduzidos diminui significativamente, e o livro passa a se difundir mais na sociedade. No seu início a imprensa ainda utilizava-se de alguns processos artesanais, como o de ornamentação, mas só o fato de a escrita a mão não fazer mais parte do processo reduziu significativamente o tempo de criação do livro.

Com o caminhar dos séculos, os livros também foram se aperfeiçoando, e o pergaminho, papel caro e que demandava muito tempo para confecção e acabamento, acabou substituído pelo papel vegetal, menos duradouro, porém mais barato. O que tornou o livro acessível não só para as famílias mais abastadas – visto que o livro era muito mais caro do que é hoje, um objeto só para os mais ricos.


Hoje, debate-se em todo o mundo e até proclama-se o fim do livro em pape graças ao advento dos e-books. Porém, apesar das previsões desastrosas sobre o futuro do livro, hoje é certo que ele só está mais consolidado em nossa sociedade, em função também da diminuição do número de analfabetos ao redor do mundo e o preço mais acessível.


A BIBLIOTECA
  
Tradicionalmente a Biblioteca é o local de guarda dos livros, quase toda pessoa tem em sua casa uma biblioteca, seja ela mini ou gigantesca.

Desde sempre as bibliotecas e os livros e demais registros do conhecimento nãos e desgrudaram. Tanto que o nome Biblioteca deriva do grego e significa Caixa de Livros ou Depósito de Livros.

Tradicional lugar de guarda e perpetuação da memória foi graças às diversas bibliotecas no mundo que a os registros mais antigos do conhecimento humano chegaram até nós e por isso hoje podemos saber que existiram tábuas de argila que foram os primeiros “livros”.

Nos registros guardados pelas bibliotecas ao longo dos séculos é possível encontrar informações sobre povos e civilizações que não mais existem. Assim, a importância da biblioteca, além de fornecer acesso aos suportes do conhecimento, tais como livros, é fazer com que as informações que hoje se encontram nesses suportes alcancem mais e mais gerações e atravessem o maior número de séculos possíveis.


[1] Adaptado do projeto de exposição na escola na qual trabalho.
[2] Adaptado de Barsa (vol. 9) e Mirador (vol. 13).
[3] Não se sabe ao certo se Gutenberg criou realmente a máquina ou a adaptou de outras semelhantes, como a Chinesa e a Holandesa, porém, foi consagrado que a autoria da prensa de tipos móveis seria dele.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Para pensar...

"A poeira das bibliotecas é a verdadeira poeira dos séculos" - Mário Quintana

Frase sensacional! Se tivesse achado antes estaria dentre um dos motivos para a criação do blog...

Afinal, a poeira dos séculos é o que herdamos de nossos antepassados e cabe a nós revirá-la em busca de novas descobertas e novos conhecimentos...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma biblioteca no porão

Era uma vez uma biblioteca, mas essa biblioteca era diferente, era ficava num porão! Isolada de tudo e de todos essa biblioteca não sabia o que se passava no mundo. Seus livros ainda diziam que o mundo era dividido entre Portugueses e Espanhóis, seu português ainda era cousa do século que passou. Sua poeira, por mais que tirassem, acumulava-se mais do que juros em tempos de crise - e por estar num porão, toda a poeira da rua, dos carros, das pessoas passando, caía justamente na pobre biblioteca...

Em cada estante que se olhava via-se o quanto os livros dali precisavam de uma nova vida, de luz, de leitores! Mas por mais que a pobre biblioteca se esforçasse ela ainda era um lugar onde o silêncio imperava, não o dos estudos, mas o  do vazio, abandonada num porão a biblioteca ia definhando, porém, a casa onde ela estava também ia definhando... Sem o sopro de renovação que as descobertas feitas na biblioteca proporcionam, a casa também foi perdendo o seu brilho, o seu por quê...


Talvez naquele porão estivessem coisas que não devessem ser enterradas, mas sim, cultuadas, pois ali temos os grandes mestres, temos o Machado, o Alencar, o Lima, o Amado, e muitos outros ícones do passado, mas que são inspiração para o futuro. Lá também estão os gigantes nos quais Newton se apoiou nos ombros e revolucionou o mundo! É... Mas enterrados ali a quem eles podiam influenciar? A quem eles podiam falar? A quem eles podiam se mostrrar?

Ali, no berço das pesquisas, parece que somente a arqueologia seria capaz de resgatá-la, mas já quando tivesse extinta - porém, mesmo assim, cumpriria a sua missão de falar ao futuro!

Talvez, algum dia, a biblioteca pode sair da escuridão do porão e se mostrar para o mundo e dele tirar novas lições, pois é da interação do mundo e da biblioteca que nascem novas reflexões, novas idéias, novos sentimentos...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Caçadores de Relíquias

Bom, como já falei 1000 algumas vezes aqui, o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso foi sobre colecionismo.

Eis que assistindo o History (antigo History Channel), me deparo com um programa sobre colecionadores, coleções e objetos,  ele se chama Caçadores de Relíquias (American Pickers). No programa dois sócios rodam os Estados Unidos em busca de objetos colecionáveis que possam ser comercializados em sua loja.

Em sua jornada, os dois deparam-se com os mais variados tipos de pessoas e objetos, desde carros antigos e mega enferrujados até bonequinhos de super heróis da década de 1980.


Nessas interações com as pessoas encontramos desde colecionadores mega profissionais, que preservam seus objetos como a mais valiosa relíquia, encapsulada em vidro e longe de possíveis ameaças, até colecionadores por acidente, que herdaram verdadeiros tesouros de seus parentes e não sabem o que fazer, dessas interações diversas informações como: ano de fabricação de um objeto, porque ele é raro e/ou valioso, fabricante etc - ou seja, dados objetos sobre ele. Porém, nas negociações de preço, por vezes, um outro fator é preponderante para determinar ou não a venda do objeto: o seu significado para o colecionador...


Se por um lado temos comerciantes natos dispostos a oferecer um bom dinheiro pelo que para alguns é apenas lixo, temos do outro pessoas que atribuíram significados aos objetos de suas coleções, e essa estima pode se fazer mais forte do que o qualquer valor oferecido. No programa é comum ouvir que uma pessoa não quer vender algo pois lhe foi dado por um ente querido ou representa uma parte de sua história, logo, faz parte da sua identidade.

Portanto, as significações e os significados contruídos ou absorvidos pelo colecionador são mais importantes do que o objeto em si e ele se constitui num estopim para a memória dele, em conjunto com os sentimentos que ele aflora e as recordações a qual ele o remete. Se não me engano, Henry Bergson diz que a memória não está no ser ou no objeto, mas sim nas relações estabelecidas entre eles, logo o tocar pode ser a faísca para que a relíquia exerça a sua função de máquina do tempo e transporte seu colecionador a um momento importante.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

100 anos de Biblioteconomia no Brasil

Há 100 anos, foi aprovada a criação do primeiro curso de Biblioteconomia do Brasil e também da América Latina.



Fundado nos porões da Biblioteca Nacional, o curso só começou a funcionar efetivamente, se não me engano, em 2014.

Tenho motivos para comemorar tal data, afinal sou filho desse curso, hoje incorporado à estrutura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Mas, sobretudo, tenho a obrigação de mostrar o contexto no qual se desenvolveu a criação do curso.



No início do século XX, o Brasil, quer dizer, a cidade do Rio de Janeiro, passava por grandes transformações. Pereira Passos, Oswaldo Cruz e outros, foram os atores principais de tais mudanças, visando sanear o Rio, que era terreno fértil para a proliferação de várias doenças, uma verdadeira revolução tomou conta da cidade, ou melhor, do seu coração, o Centro. Dentre as várias mudanças as mais representativas foram a abertura da Avenida Central (atual Rio Branco) e a derrubada do Morro do Castelo, certidão de nascimento da cidade...



Durante toda a primeira década do século passado vários sobrados, considerados focos de doenças, foram derrubados e deram lugar ou à Avenida ou a novas construções mais modernas, e, assim, a cidade do Rio ganhava mais um grande conjunto arquitetônico preservado até hoje, a Praça Floriano ou, simplesmente, Cinelândia. Nela estão os prédios do Theatro Municipal, Câmara de Vereadores do Rio, Museu Nacional de Belas Artes e da Biblioteca Nacional.

Nesse contexto, a idéia era dizer aos estangeiros que o Brasil estava se modernizando e que uma capital limpa, civilizada e livre de doenças poderia existir no Hemisfério Sul.



Daí, a idéia de prédios magníficos, pois eles nos passam a idéia de erudição. Logo, ter um prédio digno da Biblioteca Nacional era importante, além de um acervo valioso e raro, porém, era preciso que as pessoas soubessem como lidar com tal preciosidade e dar às obras o valor e o tratamento que elas mereciam.


Assim, surge a idéia da criação do curso de Biblioteconomia, para formar profissionais que atendessem os anseios da Biblioteca Nacional de ter o seu acervo tratado e bem cuidado, pois a imagem de um país interessado pela cultura e civilizado se constrói por prédios magníficos, mas também por coisas que funcionem.

E nesse contexto, com o intuito de transmitir erudição e civilidade aos estrangeiros, principalmente europeus, nasce a Biblioteconomia no Brasil e o terceiro no mundo!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Salvaguarda da memória

No post do dia 15/06 (Link) a reportagem que trata de como os arquivos dos processos da ditadura foram preservados é bem interessante.

Para quem ainda não viu a reportagem, ela trata da digitalização e publicação na web de imagens de processos da ditadura que foram fotografados e enviados para o exterior por dois advogados, se não me engano.

Enquanto discute-se a abertura ou não dos arquivos, um meio alternativo de preservação da memória criado por essas duas pessoas, permitiu que vários relatos chegassem até nós. Nesse sentido, podemos observar alguns exemplos, como o diário de Anne Frank, que é um item emblemático, pois narra a tentativa de sobrevivência em meio a perseguição nazista e serve de instrumento para que os bastidores do holocausto sejam melhor compreendidos. Fenômeno esse que ainda acontece hoje, pois os diários ainda são uma importante fonte de estudos sobre o cotidiano e sobre a memória social.

Nesse contexto, externar a memória é um meio de recordar e um meio de preservar, já que a capacidade de memória humana é limitada e acabamos selecionando o que devemos ou não lembrar. Bem como a discussão acerca dos arquivos, pois o que o governo quer, é dizer o que devemos ou não recordar - se bem que isso sempre foi feito, mas isso será um tópico abordado mais a frente (espero).

Logo, como acontece conosco quando uma lembrança surge sem que necessariamente queiramos, ela também surge na sociedade, mesmo contra a vontade dos que mandam, ou você acha que todos os setores da sociedade querem as memórias reveladas, como no projeto do Arquivo Nacional, citado, também, no post do dia 15?

O desejo de memória, o qual Jô Gondar fala em seu texto Lembrar e esquecer: desejo de memória, parece ser, por vezes, maior do que a vontade do grupo dominante ou maior do que o desejo de esquecimento...

Assim, preservar, conservar, manter, guardar pode ajudar a desvelar histórias ainda não reveladas, afinal a memória é um meio de perpetuação.

PS: O texto Lembrar e Esquecer: desejo de memória, encontrasse no livro: Memória e Espaço, organizado pela Icléia Thiessen Costa e Jô Gondar, publicado pela Sete Letras em 2000.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ainda sobre a problemática da legitimação da memória

Foi publicado ontem (15 de junho) no Blog do Noblat no jornal O Globo o seguinte texto:

"Atentado contra a História do país (Editorial)
O Globo

Um dos indicadores da qualidade de um regime democrático é em que medida a sociedade tem acesso a informações de interesse público sob a guarda do Estado. Quanto maior a dificuldade nesse acesso, mais autoritário o regime, cujas características são o distanciamento e a desconfiança entre o poder público e os cidadãos.

O Brasil, um país de longa tradição de Estado unitário, não tem bom histórico neste aspecto. Daí até hoje não se poder consultar documentos sobre a Guerra do Paraguai, travada no século XIX, encerrada há 141 anos. Trata-se de um crime contra a memória nacional.

Coerente com o atual processo de consolidação da democracia no país, quando se completam 26 anos ininterruptos de estado de direito, recorde na República, tramita no Senado a Lei de Acesso à Informação Pública.

Enviado ao Congresso em 2003, no início do governo Lula, o projeto de lei moderniza as regras de consulta a essas informações e aproxima o Brasil, neste aspecto, de países desenvolvidos e democráticos.

A lei cria três níveis de restrição: documentos reservados (cinco anos de sigilo); secretos (15 anos) e ultrassecretos (25), com a possibilidade de uma renovação de prazo em cada nível. Assim, o máximo que um arquivo do Estado ficará hermeticamente fechado será por 50 anos.

É razoável, se considerarmos que os Estados Unidos acabam de liberar arquivos da Guerra do Vietnã 36 anos depois do encerramento do conflito. Mesmo assim, com 11 palavras censuradas, uma prerrogativa também aceitável do Estado.

Mas o país pode recuar para a velha opacidade com que os políticos brasileiros costumam proteger suas biografias, funcionais ou não, e instituições se colocam acima da sociedade, caso o governo Dilma de fato aceite o inaceitável e acolha o veto dos ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney, do Itamaraty e das Forças Armadas à nova lei.

Todos desejam manter o sigilo eterno. Trata-se de uma excrescência, inadequada a um país democrático. O que temem ex-presidentes, o Itamaraty e as Forças Armadas causar, ou enfrentar, quando seus arquivos forem abertos 50 anos depois de terem sido classificados e trancafiados?

A mais poderosa nação do planeta esperou apenas 36 anos para permitir consultas sobre uma guerra em que foram cometidas atrocidades capazes, é muito provável, de superar o que se esconde nos registros sobre a entrada de tropas brasileiras no Paraguai.

É a certeza de que terá informações sobre a sua gestão abertas à sociedade que ajuda a enquadrar os governantes no padrão mais adequado da ética. Realimenta a democracia americana, por exemplo, o fato de Sarah Palin ter de fornecer à imprensa, por força de lei, os e-mails despachados do seu gabinete quando era governadora do Alasca.

Caso o governo Dilma Rousseff se curve ao veto, será, também, de extrema incoerência com o que prega em relação aos arquivos dos porões da ditadura militar.

Quem defende a constituição da Comissão da Verdade, para familiares de mortos e desaparecidos nos 
Anos de Chumbo saberem o destino dos parentes, não pode aceitar a perpetuação do sigilo eterno em informações do Estado. No mínimo, será cúmplice da censura de partes da História brasileira."

A matéria pode ser vista no seguinte link: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=386496&ch=n

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Liberar ou restringir? A problemática da legitimação da memória

Duas reportagens bem legais sobre a temática de abertura de arquivos foram veiculadas no jornal da Globo do dia  13 de junho. As matérias são essas:


"Documentos da época da ditadura estarão disponíveis na internet".

E

"Governo retira caráter de urgência da votação do projeto sobre acesso a dados públicos".

Dar acesso e negar acesso, essas são as temáticas das duas reportagens respectivamente. A primeira mostra como a memória de um povo, no caso o brasileiro, pode ser salva graças a pequenos atos que visam preservar parte da história do social. Mesmo que sejam fragmentos, tais relatos já nos servem de meio para pelo menos recontar parte da história. Não lembro ao certo, mas Baudrillard ou Benjamin nos fala que a reconstrução da história geralmente é quase perfeita, só não a é porque advém de fragmentos e esses nada mais são do que partes incompletas.

Porém, não contar com o todo é uma coisa, outra totalmente diferente é ter o todo e não poder ter acesso a ele, como é o caso do tema da segunda reportagem, na qual uma proposta do Senador e ex-Presidente José Sarney, visa classificar documentos como secretos durante o tempo que ele existir!

Parece absurdo, e é, como diz o Ancelmo Góis, parece-me algo como tortura misturado com humor negro, afinal, o que o (FDP) ilustre senador quer fazer é não nos dar acesso ao que por direito é nosso, a história e memória do Brasil e de suas instituições.

Já não basta a briga entorno dos arquivos da ditadura, se devem ou não ser liberados para consulta? E a questão, na minha visão, é bem política: como permitir acesso a documentos que provam que grandes autoridades brasileiras ainda vivas apoiaram o golpe ou ajudaram a matar milhares de pessoas? A conclusão que tiro é que só liberarão o acesso quando todos os envolvidos estiverem mortos e nenhum responsável possa mais ser julgado por seus atos. Nada mais cômodo do que construir, a seu modo, a história, sem que várias memórias conflitantes possam discordar, opinar, discutir, enfim, fazer o seu papel que é dar subsídios para a construção da história. E o que nos restará será, talvez, a idéia de Revolução e não de Golpe, ou seja, a história dos Oficiais...

Fiquemos atentos, pois, na minha visão, no mundo todo os países onde foram instauradas ditaduras foram atrás dos fatos reais, nem sempre oficiais, e os puniram aqueles que cometeram crimes, torturaram, mataram, roubaram, enfim, promoveram as maiores atrocidades. Foi assim com Pinochet no Chile, e por que não pode ser no Brasil? Ah, talvez seja porque somos um país sem memória...

PS: o texto acima é criação minha e eu assumo o que disse!
PS 2: O Arquivo Nacional tem um projeto interessante, o Memórias Reveladas, vale a pena conferir. Inclusive o lema do projeto é "Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça" - Frase brilhante essa!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Da importância de uma boa resposta


Vamos imaginar a seguinte cena: você vai à uma Biblioteca pois precisa consultar um livro, ou um documento, ou um mapa, enfim... Você precisa de uma informação ou dado que está naquele item. Daí inicia-se o diálogo:

- Bom dia, estou fazendo uma pesquisa sobre Y e gostaria de saber se vocês tem o livro Z.
No que o responsável pelo atendimento, seja ele um bibliotecário ou um auxiliar, responde:
- Não, não temos...
E assim, frustrado, você vai embora, tentando imaginar onde poderia achar tal item.

Peraí... Não está faltando algo nessa conversa? O usuário foi a um local esperando uma resposta e tudo o que ele obtém é um "Não, não temos..."??? Acredito que se o Bibliotecário, como já falei em alguns posts, é o responsável por promover o encontro entre o usuário e a informação que ele precisa, porque ele responde apenas com um "Não, não temos...". Creio que após essa frase poderiam ser adicionadas algumas palavrinhas que podem acabar com a frustração do "não", essas, talvez sejam "... mas em tal lugar você pode encontrar" ou ainda "mas você já olhou no site tal, lá pode ter alguma coisa.". Não significa que o usuário certamente irá encontrar o que deseja lá, mas pelo menos você tentou ajudá-lo a encontrar!

Lembro que por diversas vezes ao longo da minha carreira, seja como estagiário, seja como bibliotecário formado, busquei responder da melhor forma possível para que  o "não" soasse menos doloroso para o usuário. Para isso, sempre busquei conhecer sites e acervos de bibliotecas para que a minha função de bússola, em meio à toda a informação produzida, fosse efetiva e não apenas figurativa. Um exemplo:


Quando trabalhava na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional estava no balcão de atendimento quando chegou um pesquisador buscando informações sobre escravos (relações de nomes, seus "proprietários" etc). Após busca na base de dados da Divisão, a resposta que temia apareceu: "Senhor, nós não temos tal documentação...", porém, não fiquei satisfeito em apenas falar isso e indaguei: "O senhor já foi ao Arquivo Nacional? Lá eles possuem mais documentos relativos a escravos do que nós.", no que ele respondeu: "Arquivo Nacional? Onde fica isso? É sério que lá posso encontrar algo nesse sentido?", respondi afirmativamente e expliquei a ele como chegar ao Arquivo Nacional. Não sei o resultado final, se ele encontrou ou não o que buscava, mas pelo menos dei a ele a esperança de encontrar o que desejava.

Para poder dar essa informação, foi necessário que eu conhecesse, pelo menos minimamente, o acervo do Arquivo Nacional e ter a vontade de não se contentar em dar como resposta o "não". Assim, na entrevista de referência, o bibliotecário deve cuidar para que a sua função seja a de adicionar informações à pesquisa e não de colocar um ponto final nela.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fahrenheit 451 [2]

Lembra quando comentei do filme Fahrenheit 451? Se não lembra confira clicando aqui.

Pois é, a editora Globo, lançou uma nova versão desse clássico, só que como Graphic Novel, a descrição da obra diz:


"Farenheit 451 é uma das maiores obras-primas de ficção científica de todos os tempos (ou seria, se se tratasse, de fato, de ficção científica). E ganha agora uma versão em quadrinhos de altíssimo nível gráfico por Tim Hamilton – autorizada e avalisada por Ray Bradbury na introdução. Além da qualidade gráfica, o texto, com a impactante narração do personagem principal, é diretamente calcado na novela original.

451 graus Farenheit, ou 233 graus Celsius, é a temperatura de combustão do papel comum. Logo, dos livros. E os livros são os instrumentos que “incendeiam” as ideias. A sociedade de Farenheit 451, porém, é uma sociedade que preza acima de tudo a paz.

O caminho da paz, para ela, passa por dois elementos fundamentais: um, material, o outro, espiritual. Materialmente, trata-se de suprir as necessidades básicas dos cidadãos. Nessa sociedade afluente e racional, todos vivem em casas confortáveis, vestem-se e se alimentam satisfatoriamente, têm empregos e contam, para se entreter, com úbiquas telas de TV, por onde participam interminavelmente de programas interativos (o livro foi escrito nos anos 1940, o que o torna terrivelmente premonitório). Mas a satisfação material não garante a paz social se houver insatisfação espiritual. Isto é, se existirem a imaginação, a fantasia, os questionamentos, as alternativas. Tudo aquilo de que os livros são depositários.

Os livros são, portanto, proibidos. Porém proibir os livros não elimina os já publicados. Para isso existem os bombeiros, agentes especializados em localizar livros escondidos e em queimá-los in loco (não há necessidade de agentes para combater incêndios, pois as casas, ao contrário das mentes, são agora a prova de fogo). Felizmente, bombeiros com lança-chamas não podem queimar a memória..."

Vi a matéria sobre na Folha e fui ao site da Editora Globo conferir!

PS: Quero comprar! =]

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sobre ler e escrever

Bom, desculpe-me a ausência ao longo das últimas semanas, mas estava com dois trabalhos extras bem extensos, um deles é (pois ainda não acabei) a confecção de cerca de 300 mini biografias de personalidades sulamericanas do início do século XX e o outro foi formatar, conforme a ABNT, e revisar o texto de um Trabalho de Conclusão de Curso, o mais legal é que ambos tem como pano de fundo as Relações Internacionais. Tal tarefa me lembra o post que fiz sobre como o bibliotecário deve se comportar no século XXI (confira aqui).

Porém, o assunto desse post não é esse, mas tem como pano de fundo tais tarefas. A revisão textual do trabalho de conclusão de curso me chamou a atenção para uma coisa que geralmente não damos muito valor: como a forma de escrita influencia na construção e desenvolvimento do texto e contribui de forma decisiva para o melhor entendimento dele.


O exercício da escrita é uma tarefa difícil, pois envolve não só o que você quer falar, mas também como isso será dito de forma que outros possam compreender.

Mas o que leitura tem a ver com isso? Na minha visão, somente lendo que podemos aperfeiçoar a nossa escrita, pois é dessa forma que aprendemos novas palavras, assimilamos novos métodos de escrita e exercitamos o diálogo com o outro, pois a escrita é feita para que possamos nos comunicar e fazer entendidos.

Pode parecer besteira, mas quanto mais lemos, melhor escrevemos.

domingo, 29 de maio de 2011

Saque ao patrimônio

Hoje, 29 de maio, foi publicada uma reportagem no jornal O Globo sobre roubos recentes no acervo e na gestão da Biblioteca Nacional (veja). Pensei se seria ético escrever sobre, afinal, foram 6 anos dentro da instituição, por isso, não me deterei à instituição e sim ao que significa esse crime contra o patrimônio nacional.

Dizem, que o Brasil é um país sem memória, não sei se é uma afirmação verdadeira, mas que certamente o Brasil é um país sem respeito pelo passado, ah, isso ele é!

Basta ver o número de monumentos que são pixados. É fato, acabou uma reforma, que deixou um prédio ou monumento lindo e limpo e vem um fdp infeliz para pixá-lo - eu, particularmente considero os pixadores uns babacas! Mas voltando, isso não demonstra clara falta de respeito? De apego aos símbolos do passado?


A maioria de nós, acaba por agir como os bombeiros do filme Fahrenheit (que já foi citado em post anterior), destruindo não somente livros, mas também todo o patrimônio histórico que existe. Andar pelas ruas do Rio é a maior prova disso! O descaso e a falta de respeito com os símbolos nacionais por parte das autoridades e da população é latente! Hoje, só achamos que é importante - e olhe lá - o que está em museus, bibliotecas, arquivos etc, quando na verdade, esquecemos de monumentos, prédios, estátuas, que são parte da construção memorial de qualquer civilização. E, ao que parece, as paredes, cofres, câmeras e demais aparatos de segurança, não são mais eficientes para segurar o ímpeto de bandidos, que se fingem de pesquisadores para subtrair o patrimônio, que é meu, que é seu, que é nosso! O que demonstra total falta de respeito pela instituição e pela sociedade!


Eu, pretendo educar meu(s) filho(s) para que tenham respeito pelas coisas, respeito pelo patrimônio, pela história, pela memória, pelas pessoas, pela cidade, e talvez esteja na educação - em casa e na escola - a chave para que o hábito de respeitar seja cultivado em nós... Afinal, por vezes, o conhecimento, leva ao respeito.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ciência

O que é ciência? Li um ótimo texto que pode nos esclarecer algo sobre essa dúvida.

O texto é de Newton Freire-Maia e se chama "O que é Ciência?". Num texto divertido e leve, o geneticista inicia falando o que não é ciência - magia, ufologia, astrologia, e outros ias... - e vai discorrendo sobre sua vida acadêmica em paralelo com o tema proposto.

Gostei muito do texto, porque ele fala - pelo menos pelo que entendi - que a ciência é fruto da sociedade, ou seja, ela reflete a sociedade em que está. Se no passado a ciência dizia que a Terra era o centro do universo, hoje temos a "certeza" de que o sol é o centro do nosso sistema solar, afinal, existem um número sem fim de outros sistemas solares. Sendo assim, a ciência daquela época era reflexo do domínio da religião e da Igreja sobre o conhecimento humano, o que Deus não explicava, era pagão e não merecia ser estudado ou tacava o autor no estudo na fogueira...



Fora o fato de que a ciência é mutável, bem como a sociedade, e se  transforma a cada dia, logo a certeza de hoje, pode ser a teoria furada de amanhã...

Ao longo do texto ele fala ainda que a construção da ciência é algo demorado e que emana de fatores não muito científicos, como a subjetividade humana, pois a mesma coisa ganha múltiplos significados, conforme o olhar de seus observadores, sendo assim, fazer ciência é fazer o que eu quero ou o que a sociedade quer.

Porém, a ciência não é aquela mágica disciplina que visa a tudo responder e salvar o mundo de suas mazelas... Na verdade, ela nasceu como meio de observar o mundo e compreender por que as coisas acontecem. Ou seja, ciência é entender e não solucionar!

Vale a pena ler o texto, bem como outros no mesmo viés, afinal o que é ciência?

PS: Se você pensa que a biblioteca, arquivos, museus etc, não estão inseridos nessa construção, lembre-se da frase do Indiana Jones, citada num post anterior... (veja aqui)

sábado, 21 de maio de 2011

Obras Raras e Valiosas

Há uns dias atrás (10/05) estive no Senado, como ouvinte do Seminário "Obras Raras e Valiosas: Passado e Futuro" O evento foi bom, mas senti falta de uma (importante) voz, a do PLANOR.

O Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras (PLANOR).  Os objetivos do PLANOR são:
 - Identificar e cadastrar em base de dados bibliográfica, acervos de memória existentes em bibliotecas e outras instituições culturais;
- Orientar sobre os procedimentos técnicos a serem utilizados na organização e conservação desses acervos, conforme as normas adotadas pela Biblioteca Nacional;
- Manter intercâmbio com o Catálogos Internacional de ABINIA (Asociación de Bibliotecas Nacionales de Iberoamérica) de obras editadas dos século XV ao XVIII;
- Divulgar esses acervos através de catálogo on-line e impressos.
- Prestar assistência técnica para a organização e preservação de obras raras existentes no país e desenvolver programas de formação e aperfeiçoamento de mão-de-obra especializada;
-Reunir na Biblioteca Nacional informações sobre o acervo raro existente no país.

O PLANOR, ainda realiza eventos culturais, cursos, treinamentos e assessoramentos técnicos; publica o Boletim Bibliográfico do PLANOR; realiza o Encontro Nacional do Livro Raro (no qual já apresentei trabalho, veja aqui), promovido a cada biênio como seção especial do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação; Publicações especializadas na sua área de atuação, com fonteaque para o Repertório bibliográfico nacional de obras raras, o Indicador de instituições detentoras de acervos antigos do país e o Boletim informativo doPLANOR, além de alimentar o Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN), com obras do século XV, XVI, XVII, XVIII e XIX.


Talvez por isso, instituições que detenham acervo raro devam ouvir essa voz e ajudar no mapeamento do acervo raro existente no país, o que pode servir de meio de segurança para o acervo, pois, ao contrário do que alguns pensam, nem sempre publicizar significa por o acervo em perigo, e sim, pode significar colocar a salvo, conseguindo financiamentos para projetos de conservação e restauração, só para citar um.

Para entrar em contato com o PLANOR, mande um e-mail para planor@bn.br

Fica a dica!

PS: desculpe a falta de atualização, ando meio ocupado com alguns trabalhos! =]
PS 2: eu tenho um! Publicizar existe e está no dicionário, vejam: Publicizar

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Biblioteca Inclusora

Hoje, temos em voga vários debates relativos a web, internet, novas tecnologias, computadores etc. Uma das que sempre estão em voga é a da inclusão digital, pois, principalmente em países como o nosso, onde as diferenças sociais são imensas, vemos poucos tendo acesso a muita coisa e muitos sendo excluídos do mundo tecnológico, não que hoje um computador não faça parte da vida da maioria dos brasileiros - até mesmo pelo preço que caiu consideravelmente nos últimos anos, mas ter um computador em casa, efetivamente não significa ter acesso ao mundo digital, visto que o Brasil possui uma das bandas largas mais caras e ineficientes do mundo e, por isso, a internet "rápida" não chega a todos.

Porém, a biblioteca pode ter um papel preponderante nessa situação, ao se fazer um local de inclusão digital. Pois, se a biblioteca já é um lugar de desenvolvimento das ciências e tecnologias, ela tem potencial enorme para preencher a lacuna de acesso às novas tecnologias. O governo talvez não esteja atento, pois quer financiar a criação de lan houses com esse fim, mas se há uma lei que diz que todo município deve ter uma biblioteca, inclusive há financiamento para isso através do Ministério da Cultura por meio do Programa Livro Aberto (se não me engano). Programa este gerenciado pela Biblioteca Nacional e que visa modernizar ou montar bibliotecas em todos os municípios brasileiros através da assinatura de acordo, com a oferta por parte da biblioteca de mobiliário, televisão, computadores, base de dados gratuita e já preenchida, acervo base etc Pelo menos o básico para que uma biblioteca funcione. Enquanto o município só deve ter o espaço a ser ocupado.



Claro que não entendo inclusão social como dar acesso ao Orkut, MSN, Facebook e coisas do gênero, mas elas fazem parte, e talvez o treinamento de usuário e atrelar o uso dos computadores ao uso da biblioteca possa servir de impulso para o uso efetivo da biblioteca como um ambiente de aprendizagem e desenvolvimento.

PS: contribuição da minha colega de trabalho, Zê.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Um clássico, mas sem figuras...

Não sei se foi só comigo, mas quando era pequeno e ia à biblioteca, sempre pegava por empréstimo um livro que tinha muitas figuras, não que eu não gostasse de ler, mas é que ter figuras diminuía o número de páginas e servia para ilustrar o que eu estava lendo. Afinal, sempre fui fã de imagens!

Certa vez, vendo um desenho, chamado Duck Dodgers (que na verdade é um personagem interpretado pelo Patolino), o capitão Duck Dodgers olha uma estante e começa a procurar por um livro pronunciando a seguinte frase: "Um clássico da literatura, mas não tem figuras...", antes de atirar o pobre livro ao fogo...


Vendo isso, logo me identifiquei, afinal, devia estar no 4º período da faculdade (é, eu sempre assisti e continuo a assistir desenhos, mesmo depois dos 20), e me perguntei o que afinal, seriam essas figuras no contexto da biblioteca, já que no livro eu sabia muito bem!

Se no livro, as imagens atraem e agregam valor à leitura. numa biblioteca entendo que alguns fatores devem fazer o papel de figuras e atrair usuários. Talvez, o começo, seja saber o que há na biblioteca, pois conhecer o acervo de cor e salteado é obrigação de seu gestor - não estou dizendo que é para decorar a posição dos livros na estante, mas sim, conhecer possíveis obras que chamem a atenção do público. Visto isso, por que não começar com uma exposição de obras interessantes? Expor é colocar a luz para que todos possam ver o que a biblioteca pode oferecer.

Outra atitude seria a criação de uma newsletter ou serviço de alerta ou boletim informativo da biblioteca, pois, novamente, levar ao conhecimento do público o que a biblioteca possui e os trabalhos que ela pode desenvolver atrai a curiosidade de leitores e pesquisadores.

A partir daí, a criação de seminários, eventos que levem gente à biblioteca é uma boa opção, pois por vezes passamos em frente à vários locais legais, mas que não conhecemos...

Como pudemos ver... Fazer conhecer, é uma saída, logo o marketing de bibliotecas é uma saída para criar as figuras que ela precisa para atrair público e fazem parte da reinvenção da biblioteca e do bibliotecário.

sábado, 7 de maio de 2011

Biblioteca 24 horas

Sempre que penso numa biblioteca universitária ou especializada penso porque elas não são 24 horas. No mundo atual, onde todos pedem mais 15 minutinhos de sono ou mais uma horinhas para fazer o que gosta ou aquela pesquisa atrasada, ter uma biblioteca funcionando 24 horas seria uma ajuda e tanto para muitos!

Quantos amigos e conhecidos que estavam na graduação, mestrado ou doutorado lutavam para fazer suas pesquisa porque o horário das bibliotecas não era compatíveis com os seus... A maioria tinha que esperar as férias para poder pesquisa, ou as vezes pagar alguém para fazer suas pesquisas, ou depender de favores...

Se a biblioteca funcionasse 24 horas, parte desses problemas seria resolvido - ainda mais porque algumas pessoas funcionam melhor de madrugada (o que não é meu caso). Claro, uma estrutura deveria ser montada, como a contratação de bibliotecários que se dispusessem a trabalhar de noite, além da essencial máquina de café e lanchinhos... rsrsrsrsrs

Mas fica a idéia, e uma pesquisa rápida  no Google me mostrou que algumas iniciativas do tipos já estão sendo realizadas no Brasil.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Bibliotecário XX.I

Iniciamos no post "Brasil precisa de 178 mil bibliotecários" discussão acerca da nova configuração da profissão de Bibliotecário no mercado brasileiro. Hoje, iremos mais a fundo nesse tema.

Diante das novas tecnologias, uma nova postura passou a ser exigida do bibliotecário - além de um sujeito letrado, que possa apontar aos usuários as direções corretas, ele passou a ser exigido como um cidadão tecnológico, que deve estar a par das novas tecnologias e delas fazer uso em benefício próprio e da biblioteca.

Com as tecnologias avançando a passos largos e exigindo cada vez mais conhecimento por parte dos bibliotecários, talvez esse seja o nicho para que a profissão possa sofrer transformações e se adaptar ao que o mercado exige hoje.

Os formandos de hoje, em sua maioria, pertencem a chamada "geração Y" (saiba mais), que está revolucionando o mercado de trabalho mundial. Podemos dizer que a geração Y é a geração globalizada, do mundo sem fronteiras, das novas relações de comércio. Se no mundo, há uma década as relações de trabalho vem sofrendo transformações, no Brasil, elas ainda engatinham. Porém, penso que um dos primeiros profissionais que podem se transformar no novo profissional do século XXI é o bibliotecário. Explico:


Conforme o artigo do Correio da Paraíba destaca, o profissional da Biblioteconomia parece ter cansado de ganhar pouco e agora busca mais e mais. Começando por aí, um novo profissional, efetivamente liberal, pode nascer. Onde ele não pertença à uma instituição e sim exerça a função de bibliotecário em várias bibliotecas, agindo como coordenador ou manager, o que preferir. Conforme continha básica no artigo supracitado, percebemos que não teremos mão de obra suficiente para ocupar todas as vagas que estarão ociosas até 2020. E aí, está o nosso trunfo! Se tem que ter bibliotecário e ele não existe - essa espécie rara passa a valer mais. Com a carência de mão de obra estaremos, como diz o ditado, com a faca e o queijo na mão, podendo negociar carga horária, condições de trabalho, salário, benefícios, etc - bem como a supracitada geração Y entende que deve ser feito.

Ora, se existem hipoteticamente 2000 bibliotecas e 500 bibliotecários, por que não cada um ser responsável por 4??? Afinal, até onde eu conheça da lei, a biblioteca deve ter um bibliotecário responsável e não um 24 horas, até porque em certas instituições isso é inviável. Quero dizer, que o bibliotecário, como coordenador, com auxiliares capazes e qualificados, pode perfeitamente gerir alguns tipos de bibliotecas (como a escolar, infantil, especial, universitárias e alguns tipos de especializadas). Não sei se estou certo ou errado, mas ao que parece, romper com as tradições trabalhistas brasileiras e passar a trabalhar como um profissional efetivamente liberal, regido por contrato (a lei tem algo que fala disso), pode ser uma boa oportunidade de o bibliotecário se reinventar, reinventar a Biblioteca e a Biblioteconomia.

Afinal... “Prometo tudo fazer para preservar o cunho liberal e humanista da profissão de Bibliotecário, fundamentado na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana".

PS: só não esqueçamos da ética, afinal esse é o traço mais marcante da geração Y, e faltar com ela é ferir o juramento. Portanto, se vamos assumir 4 bibliotecas, devemos efetivamente responder por elas, e não apenas fazer figura.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A Nova Biblioteca

Mudança, essa é a palavra em voga nas bibliotecas. Como se adaptar aos novos tempos? Às novas tecnologias? Não penso em dar respostas, mas semear a discussão... O que fazer?



Tem gente que pensa, ainda, que a biblioteca é um depósito de livros, onde o silêncio deve imperar e a bruxa que cuida dos livros, vulgo bibliotecária, estará sempre com sua cara emburrada e chamando a atenção até do vento por fazer barulho...

Mas a biblioteca, recentemente, tem passado por inúmeras transformações. Com o advento tecnológico, a biblioteca passa a ter novos dilemas, além de ter o livro acessível ao público, até porque, hoje, uma biblioteca não se restringe a uma coleções de livros, ela teve o seu acervo transformado, e além dos tradicionais periódicos e mapas, juntaram-se meios audiovisuais (CD's, DVD's, Pen Drive etc), e os novos suportes, agora digitais. E não somente ele, agora até mesmo bibliotecas, só existem no mundo virtual.


Em meio a tantas transformações, tantos suportes e revoluções tecnológicas, urge acabar com o estigma de antiquada e ultrapassada que rotula as bibliotecas, ao menos no Brasil. Tem gente que não concorda comigo, mas as regras de uma biblioteca servem muito mais para afugentar usuários do que atraí-los, primeiro porque sempre é proibido, expressão muito forte ao meu ver, talvez o não permitido seja mais ameno e menos ditatorial...

Afinal... É PROIBIDO comer; É PROIBIDO falar alto; É PROIBIDO o uso de telefone celular; É PROIBIDO...

E porque não uma lista de é permitido??? É permitido se acomodar da forma que se sentir mais a vontade; É permitido discutir os assuntos; É permitido fazer trabalhos em grupo, e por aí... Permitir, é melhor do que  proibir!

Acho que antes de mais nada, temos que entender a Biblioteca como um local de desenvolvimento das ciências e tecnologias!

Indiana Jones, interpretado por Harisson Ford, em seu primeiro filme fala:

"70% da arqueologia é realizada dentro de uma biblioteca!" (ou algo semelhante...)

O que isso quer dizer? Na minha visão, ele quer dizer que o conhecimento está dentro das bibliotecas e quem pretende desenvolver, estudar ou simplesmente entender uma sociedade deve ter acesso a uma Biblioteca. Afinal, é lá que está armazenado o conhecimento humano!

Dito isso, creio que impor regras etc, nada mais faz do que afastar as pessoas do conhecimento. Outro agravante, é se antes só existia a biblioteca, hoje o Google faz o papel de aproximar as pessoas do que desejam... Logo, quem busca a biblioteca é porque enxerga nela algo mais, seja o silêncio de uma sala reservada, seja o acesso a obras já esgotadas!

Logo não podemos nos esquecer, não se faz ciência com proibições e sim oferecendo condições para que todos possamos estudar, ler, pesquisar...

Outra alternativa, é não fugir das redes sociais, pois se a biblioteca faz parte da rede de construção das ciências, por que não colocá-la no mapa das redes sociais? Sabemos que ferramentas existem, a Disseminação Seletiva da Informação, via alertas, e-mail, informativos, facilitam o trabalho do bibliotecário e divulga a biblioteca. Saber existe é o primeiro passo para que os usuários busquem consultar o acervo da biblioteca.


Mudar e transformar a biblioteca, integrando-a ao novo mundo é o desafio da Biblioteconomia no século XXI. Quem sabe, não é a chance de reinventar essa instituição milenar?

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Brasil precisa de 178 mil bibliotecários, segundo o Correio da Paraíba

É amigos... 178 mil bibliotecários, esse é o número de vagas para bibliotecários só em escolas... Imagine se considerarmos as "salinhas de leitura" nas empresas?

Segundo o Correio da Paraíba, em reportagem publicada no Portal Interjornal (Link), o Brasil sofre hoje com uma defasagem enorme de profissionais em Biblioteconomia. E quando se fala enorme, é enorme mesmo! São 178 mil vagas ociosas que deverão ser preenchidas até 2020, quando o prazo dado pela Lei nº 1.244 de 24 de maio de 2010 se extingue.

A lei diz o seguinte:

"Lei da Biblioteca Escolar - Lei nº 12.244 de 24 de maio de 2010
Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei.

Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se biblioteca escolar a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura.

Parágrafo único. Será obrigatório um acervo de livros na biblioteca de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado, cabendo ao respectivo sistema de ensino determinar a ampliação deste acervo conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento das bibliotecas escolares.

Art. 3º Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de Bibliotecário, disciplinada pelas Leis n 4.084, de 30 de junho de 1962 [Dispõe sôbre a profissão de bibliotecário e regula seu exercício], e 9.674, de 25 de junho de 1998 [Dispõe sobre o exercício da profissão de Bibliotecário e determina outras providências].

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de maio de 2010; 189º da Independência e 122º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Fernando Haddad

Carlos Lupi

Este texto não substitui o publicado no DOU de 25.5.2010". (Consulte aqui)

Viram???

Apesar da fraca definição sobre o que é biblioteca escolar, a lei ao menos diz que a finalidade do acervo é ser usado, consultado, pesquisado. Outro ponto que achei omisso foi não deixar claro que a biblioteca deve ter um bibliotecário, ela só diz que a profissão deve ser respeitada, mas o que isso quer dizer segundo a lei?

Outro ponto da matéria é que não traz dados concretos sobre o atual estado dos bibliotecários brasileiros, a única menção é de que ganhamos abaixo do que deveríamos, fato já confirmado pela maioria de nós, infelizmente...

Um dado que seria interessante é saber quantos bibliotecários estão efetivamente exercendo a profissão no país... Procurei no Conselho Federal de Biblioteconomia, mas não encontrei nada a respeito... Porém encontrei o Censo Profissional, que pode ser o instrumento que nos dirá, pelo menos aproximadamente, quantos profissionais existem no país, e onde eles estão. Pelo menos, segundo o CRB-1, sabemos que existem 39 instituições de Ensino Superior formando Bibliotecários (a lista). Se considerarmos a média citada na reportagem (de que a UFPB forma de 40 a 50 alunos por anos, ou seja, 45 de média), teremos o seguinte quadro:

45 formandos ano ano x 39 instituições = 1.755 formandos por ano no país

*Num prognóstico positivo, arredondaremos para 1.800, visto que é uma média.

1.800 formando ao ano x 11 anos (visto que o ano de 2010 conta) = 19.800 bibliotecários formados entre 2010 até 2020

19.800 + (os que estão formados [???: o Censo pode responder] - os que se aposentarão) = número que não chega perto de 178.000 vagas...

Posso não ter os números precisos para gerar uma estatística correta sobre a situação, mas será preciso que fiquemos atentos ao cumprimento da lei, pois senão, será mais uma a não vingar e a maioria das vagas será ocupada por professores que não podem dar aula e gostam de ler... CRB's e CFB, abram os olhos!

Para participar do Censo, basta entrar em contato com o seu CRB e solicitar uma senha, conforme explica a resolução (http://www.cfb.org.br/censo/censo.pdf).

PS: um lado do bom dos números é que podemos reduzir nossa carga horária para 20 ou 30 horas semanais e trabalhar em 2 bibliotecas! rsrsrsrrsrs

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O fator "Web"

É inegável que o mundo "se tornou menor" com o advento (!!!) do computador, a cada dia temos acesso a mais e mais informação e de todas as partes do mundo, hoje é fácil "conhecer" a Moldávia, difícil é saber onde ela fica (R: Europa).

Com tanta informação acessível de forma tão rápida e fácil, alguns estudiosos (burros) proclamaram que a morte dos livros, jornais e outras formas e conhecimentos impresso era questão de tempo... Pois bem... O que de fato ocorreu é que nunca a humanidade produziu tanto papel como nos dias de hoje. Por questões práticas, é melhor ler um documento impresso, no conforto da sua cama, do que uma tela de computador, sentando numa posição quase sempre desconfortável. Podemos dizer que a web facilita o caminho até a informação, mas que o papel ainda é o suporte informacional mais usado.

Contudo, para facilitar o acesso à informação, algumas publicações passaram a ser em formato digital e em papel - dando opção ao pesquisador, quanto ao suporte que preferir. Outras ações foram realizadas fazendo com acervos antigos, fossem totalmente digitalizados por suas instituições detentoras. E o tema de hoje tem haver diretamente com isso, pois daremos aqui a dica de algumas publicações oferecidas em sua versão digital (não diretamente, até porque pessoas já fizeram isso...).

Começo pela lista do também bibliotecário Alex da Silveira, meu ex-companheiro de trabalho na Divisão de Periódicos da Biblioteca Nacional. O Alex confeccionou uma lista dos principais Periódicos Digitalizados, nela estão contidos os links para que você chegue ao acervo digital da Veja, por exemplo, ou da Folha de S. Paulo, além do Jornal do Brasil, Careta, Fon Fon, e por aí vai... A lista você encontra no site do Alex, o Bibliotecno (Aqui), ou no site da Biblioteca Nacional (Aqui também). Recomendo bastante o site do Alex paa quem curte inovações tecnológicas, vale muito a pena conferir!


 

Outras inciativas também foram realizadas por revistas científicas, que passaram a disponibilizar o seu conteúdo na rede, o que para os pesquisadores é mais do que uma mão na roda! A lista elaborada pelo Extralibris, arrola periódicos brasileiros da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação (Confira aqui). Outra iniciativa na mesma direção é do SCIELO, que arrola periódicos de diversas áreas e em diversas línguas (Conheça aqui)

E se tratando de instituições de memória, outra atitude que vale a pena conferir é a do Museu Histórico Nacional que disponibilizou seus Anais na íntegra, basta ir em http://www.docpro.com.br/mhn/bibliotecadigital.html - o máximo que você terá que fazer é instalar um plugin.



Espero que aproveitem as listas e sugiram o que ficou faltando!

PS: Eu consigo ler no PC até 20 páginas passou disso só em papel mesmo... Até porque gosto de rabiscar e fazer anotações... =]

terça-feira, 26 de abril de 2011

Fahrenheit 451

A temperatura em que o papel queima e o título de um ótimo filme (e livro)!

Fahrenheit 451, livro de Ray Bradbury, publicado em 1953, cujo filme foi lançado em 1966, narra a história de uma sociedade onde os livros são proibidos e qualquer opinião própria é duramente reprimida. Uma sociedade onde os bombeiros provocam incêndios ao atear fogo nos livros e são os expoentes da repressão, censurando toda e qualquer opinião formada pela pessoa e que não venha do meio de comunicação em massa mais popular da sociedade, a televisão.

O filme, um tanto surrealista, com um visual futurista, mas imaginado em 1966, soa meio que estranho... Mas não deixa a desejar. Veja alguns trechos:



Tal tema, destruição dos livros, é recorrente na história humana, desde a antiguidade, ainda com os rolos de papiro o meio mais eficiente de apagamento da memória de um povo é destruir toda a sua cultura, a começar, hoje, pelos livros, como foram os papiros, tábuas de argila e códices de ontem... Uma vez um professor indagou qual seriam um dos primeiros locais bombardeados em caso de uma guerra? A resposta, por mais estranha que possa soar, são biblioteca nacional, arquivo nacional e museu nacional - ou seus equivalentes -, pois são nesses locais de memória, que se preserva a cultura de um país ou um povo. E numa guerra, onde o objetivo é destruir o outro, nada mais "normal" do que destruir o inimigo e também exterminar a sua história, acabar com a sua memória... Não por acaso, o exército americano atingiu "sem querer" umas três vezes a Biblioteca Nacional do Iraque, destruindo ou deixando em pedaços a história de uma civilização de mais de 5 mil anos... As imagens dos saques aos bens culturais de Bagdá são emblemáticas e retratam bem o que quero dizer.

Outro marco iconográfico que pode ser interpretado da mesma maneira, é a derrubada da estátua de Sadam. Por mais que demonstre o poderio bélico americano, um símbolo de "quem manda", é, também, um símbolo do apagamento da memória que aquele monumento possa representar.

Se hoje os cientistas, historiadores, arqueólogos e outros lutam para entender o calendário Maia, é porque os colonizadores espanhóis foram extremamente eficientes no quesito "apagamento de memória", pois destruíram todos os meios de entendimento das culturas maia, inca e asteca - incluindo os seus livros... Se hoje temos um quebra-cabeça imenso, mais ou menos do tamanho da América Latina, grande parte se deve à intolerância dos espanhóis (e por que não, portugueses, já que os registros indígenas também foram destruídos).

Voltando aos livros e ao filme... Se você não quer saber o final dele, pare de ler aqui, caso contrário continue...

Tem certeza de que quer continuar???


OK, então!


No final do filme, Montag, a personagem principal da história, se refugia numa floresta, onde residem os chamados "Homens Livro", nela, cada habitante, deveria ler um livro, decorá-lo e depois... Queimá-lo... Ao decorar o livro, o homem assume como sua identidade o título do livro, sendo assim, John (inventei um nome qualquer...) se torna Cândido (obra de Voltaire), e assume o compromisso de repassá-lo para seus semelhantes. Sendo assim, o "Homem Livro" nada mais representa do que a resistência, a vontade de não esquecer, o lembrar e eternizar.

Para saber mais, temos o livro de Fernando Baez, "História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra do Iraque" e um que não lembro o título e que irei postar assim que lembrar... =]

sábado, 23 de abril de 2011

Coleções

Bom, esse é um tema que muito me interessa... Aliás, esse foi o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), vulgo monografia.

As Coleções em linhas gerais, surgem do desejo humano de guarda e perpetuação. Apesar de serem mais comuns na nossa infância, ainda deixam vestígios no mundo adulto. Se antes colecionávamos Cavaleiros do Zodíaco, hoje colecionamos jogos do PS 3...


Se antes as meninas colecionavam papel de carta, hoje elas colecionam perfumes...

Mas cientificamente, as coleções têm uma valor inestimado e são objetos de inúmeros estudos, pois são delas que surgem as grandes bibliotecas e museus. Quem nunca ouviu falar que a Coleção tal está no Museus do Louvre? Ou que os as fotos de D. Pedro II estão na Biblioteca Nacional?

Em linhas gerais, as coleções surgem dos gabinetes de curiosidades, sediados em sua maioria na Europa. Neles, grandes apreciadores de artes e nobres, juntavam em seu "acervo" coisas curiosas ou fantásticas dos novos mundos que se abriram após as navegações e antes delas com o contato com árabes e chineses.


Você sabia, por exemplo, que o zoológico surgiu de uma coleção? Animais "fantásticos" eram levados para a Europa afim de ficarem expostos como uma prova do misterioso mundo além mar ou montanhas. Função essa, que permanece até hoje, mas envolta em menos misticismo... Quer dizer, se não vamos até o "fantástico", ele vem até nós!



Colecionar coisas, segundo os teóricos é como ter em cada objeto da coleção uma espécie de máquina do tempo, que nos faz viajar ao passado e dele voltar em segurança. São, portanto, pontes entre o visível e o invisível, o passado e o presente - fala essa de Krzysztof Pomian, que juntamente com Walter Benjamin tem obras que tratam do Colecionismo. Outros, como Jean Baudrillard falam da função do objeto e de como ele tem valor sentimental para o colecionador.



Quem nunca pegou aquele brinquedo velho e surrado, que mesmo inconscientemente deixamos em nossa casa e nos lembramos dos bons momentos vividos "com ele" ? Não estou dizendo que qualquer coisa pode ser coleção, mas se te traz alguma recordação, por que esse objeto não pode fazer parte da sua coleção de sentimentos? Brega, né? Mas por quê fotografamos? Para eternizar momentos... Mesmo motivo pelo qual guardamos tranqueiras em nossos armários e estantes, seu valor sentimental, na maioria das vezes, supera o valor monetário e aí tá a graça de colecionar ou juntar, como queiram, o sentido do que temos vai variar de como olhamos para aquele objeto, do que ele significa e do ele nos faz lembrar - geralmente destruímos o que nos traz dor e encapsulamos o que nos traz alegria...

Colecionar, aquele ato infantil e bobo, significa mais do que podemos perceber e nos leva ao que desejamos rememorar...

PS: Como me odeio por ter jogado o meu álbum dos Cavaleiros do Zodíaco no lixo! =/