domingo, 15 de julho de 2012

sábado, 14 de julho de 2012

Paper*

Reflexão crítica, que articule inter-relações entre Ciência e Ciência da Informação, sob a ótica de cada proposta individual de pesquisa, indicando possíveis alterações na perspectiva de pesquisa: O patrimônio Arquivístico Brasileiro: Ações e Omissões do Estado.

É crescente e frequente o descaso com documentos de arquivo, em razão de diversos fatores e isso acarreta prejuízos uma vez que as informações arquivísticas devem assegurar a memória do estado e servir como elemento de prova e informação para tomada de decisão e como instrumento de desenvolvimento institucional e social, devendo o Estado garantir a sua proteção. Entretanto, questiona-se: a existência de legislação tem contribuído adequadamente para assegurar a proteção dos documentos e evitar condutas lesivas se notícias são publicadas nos jornais sobre o desmazelo com os documentos públicos?

A dificuldade para responder esta indagação demonstra a complexidade das ações que devem ser implementadas na administração pública para debilitar as condutas e práticas lesivas aos documentos arquivísticos. Tal condição resultou nos seguintes problemas norteadores da pesquisa: Quais as medidas promovidas pelo Estado para a proteção do patrimônio arquivístico brasileiro? Quais são as lacunas existentes que impedem a eficácia dessas medidas?

Compreender o alcance e os limites da intervenção do Estado brasileiro na proteção do patrimônio arquivístico do país é o objetivo central da pesquisa, ou seja, “conhecer o fenômeno que é o objeto da ciência” (TOMANIK, 2004 p. 17).

Uma ciência que está constantemente em busca de conhecer o dia a dia de suas pesquisas precisa investir em estudos. Jardim defende estratégias de pesquisa que abordem as questões do Estado e das Políticas Públicas e suas relações com o cidadão e afirma que alguns tópicos merecem ser desenvolvidos na ciência da informação, dentre eles, os documentos arquivísticos produzidos pelas organizações públicas (JARDIM, 1999 p.48).

Portanto, esta pesquisa, cujo tema é o patrimônio arquivístico, é do tipo exploratória, descritiva e qualitativa que buscará identificar: as ocorrências de práticas lesivas ao patrimônio arquivístico nos jornais e na internet; a existência de ações de investigação abertas pelo Ministério Público Federal - MPF sobre atos lesivos ao patrimônio arquivístico; a legislação que trata de proteção ao patrimônio arquivístico e as ações promovidas pelo Arquivo Nacional e IPHAN.

O acesso a informações no universo proposto é uma premissa possível na pesquisa, porém a possibilidade de encontrar obstáculos no acesso a documentos no MPF, não pode deixar de ser considerado, sinalizando, assim, possíveis alterações na perspectiva de pesquisa. Nesta senda, na ocorrência de tais obstáculos intransponíveis, a pesquisa será atenciosa à legalidade, tendo em vista a previsão constante nos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais: segredo de justiça.

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* Mais uma contribuição da minha companheira de orientação, Cristiane Basques.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Hemeroteca Brasileira


Semana passada foi lançada pela Biblioteca Nacional o site da Hemeroteca Digital Brasileira, mais uma iniciativa de acesso às informações preservadas nos armazéns da Rio Branco, 219.

A Hemeroteca (http://hemerotecadigital.bn.br/) permite a consulta a um bom número de jornais não correntes e que foram digitalizados, permitindo inclusive a consulta por palavra-chave.


Como fonte de pesquisa, a iniciativa tem tudo para dar certo, uma vez que não será mais necessário o deslocamento até o Centro do Rio para a pesquisa - os pesquisadores de outros estados agradecem!

Uma dica quando buscar por palavras-chave é checar a ortografia adotada na época, pois até onde testei o programa não faz essa correção automaticamente, logo, quando buscamos por Biblioteca, dependendo do período teremos que usar o "TH".


Em meio a crise que rondou a Biblioteca Nacional nos últimos meses por conta dos danos ao acervo causado por sucessivos sinistros, a Hemeroteca Digital têm potencial para se tornar um dos mais importantes instrumentos de pesquisa no Brasil, ainda mais por ter o seu acesso livre e irrestrito.

Segundo a sua descrição, "Na HEMEROTECA DIGITAL BRASILEIRA pesquisadores de qualquer parte do mundo passam a ter acesso, inteiramente livre e sem qualquer ônus, a títulos que incluem desde os primeiros jornais criados no país – como o Correio Braziliense e a Gazeta do Rio de Janeiro, ambos fundados em 1808 – a jornais extintos no século XX, como o Diário Carioca e Correio da Manhã, ou que não circulam mais na forma impressa, caso do Jornal do Brasil".

Creio que é um instrumento de pesquisa que vale ser visitado, ainda mais pela curiosidade que desperta, sobretudo no aprendizado em lidar com as ferramentas - que convenhamos, são bem inteligíveis e permitem uma busca rápida e fácil.

Visitem: http://hemerotecadigital.bn.br/ e http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx

terça-feira, 10 de julho de 2012

Construindo imagens

No jogo da memória, o que mais há é interesses diversos e com o Eduardo Paes não seria diferente...

"Em campanha, Paes tenta vincular sua imagem às transformações feitas por Pereira Passos" (Em O Globo)

 Ao tentar atrelar a sua imagem à de Pereira Passos, o que ele deseja é enaltecer os seus feitos e seu próprio ego, nada contra, afinal, faz parte da criação e recriação da memória!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Para que serve a ciência afinal?*



"Dizer que alguma coisa é boa ou má, melhor ou pior, é dar um julgamento humano. Só um homem pode dizer que uma coisa é boa ou má – e não se discute. Nenhum procedimento científico pode conter uma resposta sobre a relativa desejabilidade de uma coisa. [...] É nesse sentido que a ciência é neutra. Não é neutra por haver alguma virtude essencial em ser neutra. É simplesmente a natureza da ciência, que está em testar relações empíricas entre fenômenos ou variáveis – e, para fazer isso, exige que o fenômeno seja de natureza a ser observado, manipulado ou medido” (KERLINGER, Fred N.. Metodologia da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: EDUSP, 1980).

Alguns teóricos defendem que a ciência seria uma forma de saber neutro, uma vez que ela descreveria fatos e explicaria fenômenos objetivos, sem emitir juízos de valor ou crenças e opiniões dos próprios cientistas. No entanto, nos dias atuais, essa suposta neutralidade é criticada, uma vez que entendemos que toda a ciência está inserida em um contexto sócio histórico e sofre pressões e influências dos setores políticos, econômicos, religiosos, além da própria sociedade civil.
O ser humano nasce inquieto e sua existência se condiciona aos acontecimentos que se submete ou de seus atos volitivos. Aquela se confronta com a realidade e, estes com a percepção da mesma. Sua inquietude naturalmente persegue o alcance da área de conforto, da segurança, do controle, da linha tênue que margeia a ociosidade.
A ciência é algo prático e dinâmico decorrente de uma curiosidade e da predisposição de deixar uma contribuição do conhecimento humano. Esse “algo” envolve perguntas e respostas que são capazes de desafiar conhecimentos construídos e/ou consolidados e por sua vez geram prazer e dor, integração e contribuição, esforço e satisfação em atingir alguma meta. A ciência é como um conhecimento que auxilia a explicar o mundo e, ao mesmo tempo, como uma forma de produção coletiva, que está sintonizada com a cultura e as ideias do ser humano no seu contexto histórico-social.
Le Coadic (2004 p.26) afirma que “a informação é a seiva da ciência e sem informação ela não pode se desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e não haveria o conhecimento”.
Buckland (1991) propõe que o fenômeno informação seja trabalhado a partir da escolha do conceito mais apropriado a observação que se dirigi sobre o objeto de pesquisa, o que viabiliza uma imensa possibilidade de investigação.
Assim, sendo a informação o corpo central do estudo da Ciência da Informação como uma disciplina interdisciplinar que está aberta para dialogar com outras disciplinas do conhecimento, a dissertação de mestrado na área terá como tema o patrimônio arquivístico (informação arquivística), cujo objetivo geral é compreender o alcance e os limites da intervenção do Estado brasileiro na proteção do patrimônio arquivístico do país para responder quais as medidas promovidas pelo Estado para sua proteção e quais as lacunas existentes que impedem a eficácia dessas medidas.
Reconhecendo o caráter incipiente da pesquisa tendo em vista a “deficiência” de políticas públicas de informação arquivística, em razão do arcabouço legal existente fornecer os meios para efetivação da proteção do patrimônio arquivístico, contudo não a garantia de sua ideal e efetiva aplicação e fiscalização, fazer ciência é necessário e inevitável.
Se o arcabouço legal existente não é por si só o único caminho para garantir a proteção, acesso e preservação da memória pública brasileira invita-se ampliar as discussões sobre o tema, pois o patrimônio arquivístico é merecedor de um processo de difusão arrojado com a participação de atores de diversas áreas do conhecimento, não somente do Estado, mas da sociedade, pois, qualquer instituição está vulnerável a fatores de risco de toda natureza fragilizando gradativamente sua proteção.
Assim, comungo com Tomanik: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la.”.

REFERÊNCIAS

BUCKLAND, Michael K. Information as thing. Journal of the American Society for information Science, v. 42. n. 5. p. 351-360, 1991.

LE COADIC, Yves-François. A Ciência da Informação. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.

TOMANIK, Eduardo A. O olhar no espelho: “conversas” sobre a pesquisa e Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004. 2 ed.

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Mais uma contribuição da nossa companheira de orientação no mestrado, Cristiane Basques.

sábado, 30 de junho de 2012

Reflexões sobre ciência e projeto científico*


 Ciência é o conjunto de conhecimentos que dizem respeito ao mundo exterior obtido por meio de “métodos científicos”, objetivos e descritivos, sem a intervenção subjetiva em relação ao objeto de estudo. A ciência não explica tudo, mas algumas coisas e, suas explicações não são sempre as melhores, mas o que é explicado em ciência pode ser considerado “verdade”.
Ela serve para prever e antecipar fenômenos ou até, se possível, transformá-los. Para tanto, os dados na ciência devem ser medidos, sempre que possível, devendo, portanto obtê-los de acordo com a utilização de técnicas científicas, como modo de construção de argumentos.
Assim, um projeto de pesquisa científico deve ser construído por etapas, com um planejamento minucioso, cronogramático e com o propósito de atingir o objetivo, e ainda, averiguando como o tema tem sido tratado pelos pares na comunidade científica. Importante também identificar outros sujeitos a quem queremos compartilhar ou “convencer” com a pesquisa. A pretensão da pesquisa científica é o julgamento da comunidade científica e não propriamente a “conclusão do estudo”, mesmo que nossa expectativa seja o alcance dos resultados. Entendo que não se deve afastar dele, mas a busca da objetividade deve ser exercida.
 Os questionamentos devem ser feitos exercendo nossas primeiras impressões, nossas opiniões a tudo que trazemos do sensu comum para a pesquisa, porém travando uma luta contra o saber imediato.
                 Importante destacar que num trabalho científico não devemos nos deixar enganar de que a definição que nós construímos, ou qualquer outra construída por qualquer autor, tenha a capacidade de entender o que realmente forma a essência do fenômeno sobre o qual falamos.
                 É isso, boa sorte!


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Mais uma contribuição da nossa companheira de orientação no mestrado, Cristiane Basques.

Coisas de Ciência...*


O que é ciência? Que coisa é essa?
O dicionário, onde está? No Google?
Mas são tantas definições e conceitos!
Qual será o certo? Existe um?
Será que Freud explica? Ou quem sabe Tomanik?
Vamos tentar?
Então vamos lá!

“A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar.” (Sigmund Freud)

Acho que Freud não explica!
Estou curiosa, então acredito que a curiosidade seja a essência para que o homem explore o mundo ao seu redor.  É essa curiosidade de conhecer, olhar algo até então “desconhecido” que proporciona ao homem visualizar novos horizontes e entender fenômenos.
O conhecimento começa pela curiosidade, pela inquietação, pela pergunta, pela pesquisa. A pesquisa possibilita conhecer a novidade e contribui para que a curiosidade saia da ingenuidade e se transforme em conhecimento e a ciência é a principal fonte de validação do conhecimento sobre o mundo objetivo e é um dos principais fatores de desenvolvimento social, econômico e cultural das sociedades contemporâneas.
                 Tomanik (2004 p.17) expõe que o objeto de uma ciência é aquilo que ela propõe a conhecer, é a parte da realidade sobre o qual ela pretende realizar seus estudos. Então para conhecer é preciso procurar, encontrar “soluções” para os problemas, investigar, que é, sobretudo, uma vontade de perceber, interrogar, para ver as coisas de outro modo ou para questionar aquilo que “parece” certo.
                 Então o objetivo da ciência é compreender o fenômeno que ela se propôs a conhecer!
“Esta é a essência da ciência: faça uma pergunta impertinente e cairá no caminho da resposta pertinente.” (Bronowski, J.)

Mas como perguntar? Como investigar? Como esclarecer as dúvidas?
O método é um instrumento básico para ordenar o pensamento na busca de um objetivo e para a construção do conhecimento. Ele é quem disciplina a investigação, por meio de processos mais adequados, e afasta distorções, casualidades e achismos. O método caracteriza o percurso feito pelo homem no processo de compreender e entender o objeto de investigação. Afinal, quem investiga está procurando discutir para conhecer e quem conhece se interessa em investigar.
Tomanik (2004 p. 55) afirma que ciência é discussão e que se a ciência pretende ser um conhecimento válido sobre a realidade, e se esta realidade está em contínuo processo de transformação, não há nenhum sentido em que se pretenda ter um corpo de conhecimentos estático e definitivo. Por esta razão, uma das funções dos cientistas é a de discutir os critérios que permitem estabelecer os limites e alcances da ciência, uma vez que estes itens podem sofrer (e sofrem) alterações no decorrer da história.
 “A ciência precisa ter uma função social. Ela é a única saída para o subdesenvolvimento e precisa estar junto da sociedade. Não pode ter um caráter consumista, de exclusão.” (Sérgio Mascarenhas Oliveira)

Sua função seria o bem estar do homem e da sociedade?
Abastecer o homem com informações representativas do mundo, das coisas, dos seres, favorecendo sua independência, sua liberdade para compreender as melhores alternativas que o leve as melhores escolhas seria uma de suas funções.
“A liberdade é para a ciência o que o ar é para o animal.” (Poincaré , Jules)

                 E se informação é um grande objeto transformador, como reuni-la de forma que se torne combustível para a liberdade?
                 Que tal buscarmos respostas na Ciência da Informação?
                 Shera e Clevaland definem o conceito de Ciência da Informação como:
Ciência que investiga as propriedades e o comportamento que governam o fluxo de informação e os meios de processar as informações para ótima acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, a disseminação, a coleta, a organização, o armazenamento, a recuperação, a interpretação e o uso da informação. (SHERA; CLEVALAND apud FONSECA, 2005, p.19)

Assim, essa ciência tem um campo a explorar que é a informação, ou seja, o objeto da ciência da informação é a informação.
E agora, mais uma definição a explorar?
De acordo com o Google são várias as definições, mas existem várias respostas possíveis, dependendo de quem responde. Para Capurro e Hjørland (2003) quase toda disciplina científica usa o conceito de informação dentro de um contexto específico e com relação a fenômenos específicos.
Informação é qualquer coisa que é de importância na resposta a uma questão. Qualquer coisa pode ser informação. Na prática, contudo, informação deve ser definida em relação às necessidades dos grupos-alvo servidos pelos especialistas em informação, não de modo universal ou individualista, mas, em vez disso, de modo coletivo ou particular. Informação é o que pode responder questões importantes relacionadas às atividades do grupo-alvo. A geração, coleta, organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação e transformação da informação devem, portanto, ser baseada em visões/teorias sobre os problemas, questões e objetivos que a informação deverá satisfazer. (CAPURRO; HJØRLAND, 2007, p.187-188)

Mas produzir conhecimento implica somente na descoberta?
A informação é algo transformador e que circula no universo científico e que precisa ser utilizada para dinamizar as discussões e a geração de novos conhecimentos por meio de redes corporativas, compartilhadas. Produção de conhecimento não implica somente na descoberta, significa trabalhar em rede de conhecimento.
A participação em redes, às parcerias e a cooperação possibilitam a interação. A interação leva ao compartilhamento, impulsiona os fluxos de informação e de conhecimento que são decorrentes do movimento de uma rede e determinante para um direcionamento e evolução.
                 Faz-se ciência discutindo e compartilhando informações e a rede é um meio de adquirir e disseminar conhecimento!
Então essa coisa chamada ciência é um processo dinâmico e que pode ser iniciada por qualquer pessoa que se interesse em deixar sua contribuição ao conhecimento humano que proporcionará novos interesses, novas curiosidades.
“A ciência será sempre uma busca e jamais uma descoberta. É uma viagem, nunca uma chegada.” (Karl Popper)


REFERÊNCIAS

CAPURRO, Rafael; HJØRLAND, Birger. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, p.148-207, jan./abr. 2007.

CITADOR. Disponível em: <http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/ciencia>. Acesso em: 20 jun. 2012.

FONSECA, Maria Odila Kahl. A Arquivologia e Ciência da Informação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. 124 p.

INSTITUTO BRASIL VERDADE. Guarujá, SP, [2012]. Disponível em : <http://www.institutobrasilverdade.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3783&Itemid=0>. Acesso em: 20 jun. 2012.

O MUNDO DA CIÊNCIA. Disponível em: <http://omundodaciencia.blogs.sapo.pt/>. Acesso em: 20 jun. 2012.

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* Mais uma contribuição da nossa companheira de orientação no mestrado Cristiane Basques.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A Memória, enterrada, do Brasil

Excelente reportagem da Miriam Leitão sobre as escavações na Zona Portuária do Rio que estão ajudando a reescrever a história dos escravos no Brasil: http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2012/05/11/1-milhao-de-escravos-passaram-pelo-cais-do-valongo-444625.asp

Vale a pena conferir!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A pedido da prefeitura, CPDOC da FGV explicará nas placas os nomes das ruas do Rio

De O Globo

RIO - A Rua da Quitanda já se chamou “do Açougue Velho” e “João Alfredo”. Teve trechos conhecidos como Canto dos Meirinhos e dos Tabaqueiros, mas foi uma mercearia de esquina, que vendia mariscos e outras comidas, que lhe deu o nome definitivo. Nos livros sobre o Rio de Janeiro, é possível saber outros detalhes da história da Quitanda. Difícil será resumir tudo isso em 140 caracteres, um verdadeiro "twitter" das ruas cariocas.

Desde março, a pedido do Arquivo da Cidade, o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas está levantando a história e revisando a identificação de mais de cinco mil ruas do Rio. Até outubro, a equipe encarregada do projeto “Placas do Rio” terá de sintetizar o que descobriu de cada rua em textos de uma linha e meia (140 caracteres), no máximo, que serão acrescentados às placas públicas.

Só então, os cariocas vão saber que a Quitanda era, originalmente, Rua da Quitanda dos Mariscos, que o general Glicério nunca serviu ao Exército e que Joaquim Nabuco foi um líder abolicionista e não apenas um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, como hoje a sua placa o identifica. O texto explicativo, disse o coordenador do projeto, Américo Freire, informará, quando possível, as datas de nascimento e morte do personagem que dá o nome à rua; a atividade exercida, os cargos públicos ocupados e tipo de premiação recebida.

Desta forma, a placa da Avenida Afrânio de Melo Franco, no Leblon, ganhará o seguinte complemento: "(1870-1943), deputado federal MG, embaixador na Liga das Nações, ministro das Relações Exteriores". À Avenida Paulo de Frontin, será acrescido “(1860-1933), engenheiro, senador, prefeito do DF, deputado federal”. Já existem placas assim no Rio, mas a diretora do Arquivo da Cidade, Beatriz Kushnir, reconheceu que algumas delas apresentam erros e precisam de revisão:

—- Para resolver o problema, nada melhor do que o CPDOC, autor do Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro.

Uma pesquisa rápida no GoogleMaps não localiza o nome “João do Rio” entre as cinco mil ruas da cidade. Portanto, os pesquisadores não terão a chance de identificar o jornalista e escritor cuja obra é fonte de inspiração para todo o trabalho. Em “A alma encantadora das ruas”, lançado no início do século XX, João do Rio escreveu: “A rua é a civilização da estrada. Onde morre o grande caminho começa a rua, e, por isso, ela está para a grande cidade como a estrada está para o mundo”.

A equipe do CPDOC pretende identificar até 800 placas por mês. Além do Dicionário Histórico e Biográfico e outros dicionários da instituição, os pesquisadores deverão recorrer ao próprio acervo do Arquivo da Cidade, onde as ruas estão descritas em fichas datilografadas por um funcionário desconhecido. Se as dúvidas persistirem, eles planejam recorrer aos atos originais de criação das ruas.

— Há muitas datas comemorativas, como Treze de Maio, por exemplo. Essa é fácil de identificar. Mas, Dois de Dezembro (nome de uma rua no Flamengo)? Confesso que não faço a menor ideia do que ocorreu nesta data — admite o professor Américo Freire.

O coordenador do projeto sempre achou que "General Glicério", rua de Laranjeiras, era inspirada nas quatro estrelas da farda do militar. Mas Francisco Glicério nunca pisou numa academia militar. Destacado líder republicano do fim do século XIX, ele sempre foi civil e recebeu a distinção como reconhecimento do governo provisório.

Pesquisa traça geografia política dos nomes

Se o cronista João do Rio dizia há mais de um século que as ruas têm almas (“há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas..”), os pesquisadores do CPDOC acrescentam que as placas das ruas também incorporam a história de suas cidades. Em se tratando da antiga capital, o alcance é ainda maior: elas ajudam a contar a história do país.

Em um mês de trabalho, os pesquisadores de “Placas do Rio” já perceberam uma concentração de “florianistas”, aliados de Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil (1891-1894), e de barões, condes e viscondes, alguns deles expoentes do ciclo do café no Segundo Reinado, batizando as ruas de áreas mais antigas da cidade.

— Copacabana é mais republicana do que o Centro. Os engenheiros também estão muito presentes. Na medida em que a pesquisa avance, vamos montar a geografia política da cidade e identificar outras tendências — disse Américo.

O objetivo do Arquivo da Cidade, ao contratar o CPDOC, não é esgotar todo o trabalho nos 140 caracteres de cada placa. Beatriz Kushnir, diretora da instituição, prevê o lançamento no ano que vem de um portal com a identificação completa das ruas, incluindo as fichas do acervo devidamente digitalizadas.
Beatriz, que também coordena a comissão carioca de nomeação de logradouros e equipamentos públicos, disse que a pesquisa do CPDOC será repassada para uma empresa especializada em confeccionar e substituir as placas existentes, cujo contrato com a prefeitura foi firmado na gestão de Cesar Maia.

Ela disse que, hoje, o apelo político deixou de ser determinante da escolha dos nomes de rua. Afirmou ainda que os nomes mais recentes submetidos à comissão refletiram muito mais a memória cultural do que a elite dirigente. Uma das últimas ruas inauguradas pela prefeitura, em Senador Camará, se chama “Wando”.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Pesquisa Multimídia

No site da Piauí, encontramos uma reportagem bem interessante de Bernardo Esteves sobre o uso de vídeos nas pesquisas científicas. Vale a pena conferir! O link é: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/pesquisa-multimidia

O texto cita até uma revista científica que só aceita trabalhos publicados em vídeo! Mais uma prova de como a web revolucionou, também, o modo de se fazer, conhecer e divulgar as pesquisas!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Pé de guerra


Matéria publicada na revista Piauí


Pé de guerra






Já são quase 5 mil os signatários do manifesto The Cost of Knowledge [O custo do conhecimento], um boicote coletivo à Elsevier, a maior editora de revistas científicas do mundo. Os pesquisadores afirmam que não vão mais publicar nos periódicos do grupo e nem atuar como revisores – um trabalho que costumam fazer de graça.

Elsevier, grupo multinacional sediado na Holanda, publica cerca de 2 mil periódicos e teve em 2010 um lucro de 847 milhões de euros, ou mais de um terço da sua receita anual. A editora é acusada pelos pesquisadores de explorar o trabalho voluntário dos pesquisadores e cobrar preços extorsivos por suas revistas, obrigando muitas vezes as bibliotecas a assinar pacotes de periódicos, nos quais títulos menos relevantes são empurrados junto com revistas essenciais (qualquer semelhança com os pacotes das operadoras de TV a cabo não é coincidência).
A proposta de boicote reflete uma insatisfação antiga da comunidade científica com um sistema de publicação que ainda é majoritariamente fechado. Mas ela foi desencadeada por um projeto de lei dos Estados Unidos que impediria que pesquisas financiadas com dinheiro público tivessem acesso aberto um ano depois de publicada.
A Elsevier é alvo do protesto por sua visibilidade, mas o descontentamento dos cientistas se estende a outras editoras. “A Elsevier é somente a empresa que mais chama a atenção por essas práticas e pelo lucro exorbitante que tem, mas há algo de muito errado com todo o sistema de publicação de artigos científicos”, reconheceu o físico Ernesto Galvão, professor da Universidade Federal Fluminense e um dos signatários brasileiros do manifesto.
O projeto de lei e a reação dos pesquisadores já motivaram a publicação de dezenas deartigos e posts na imprensa mundial. Para citar apenas três exemplos colhidos na blogosfera brasileira, vale ler os textos de Carlos Orsi, que fez uma discussão minuciosa do contexto em que surgiu o manifesto, de André Rabelo, que apontou alguns caminhos possíveis para o futuro da ciência aberta, e de Átila Iamarino, que discutiu como os cientistas brasileiros podem se posicionar nesse debate.
Conteúdo aberto x fechado
defesa da ciência aberta reflete um movimento mais amplo pelo acesso irrestrito à informação em vários domínios. Na avaliação do médico e pesquisador da área de saúde pública Kenneth Camargo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as editoras de periódicos se veem diante de uma crise que há anos assusta as indústrias fonográfica e cinematográfica. “Determinadas empresas se acostumaram com um modelo de negócios que está ameaçado”, avaliou o médico, que também assinou o manifesto. “Mas com o crescimento dos portais abertos como o Scielo, no Brasil, o PLoS e o Biomed Central, no exterior, claramente está se desenhando um campo de força oposto.”
Mas ainda não está claro qual modelo poderá substituir o sistema atual. Camargo – que é editor da revista brasileira Physis, publicada pela Uerj, e editor associado do American Journal of Public Health, dos Estados Unidos – lembra que, em alguns periódicos abertos do exterior, os autores precisam pagar uma taxa de publicação (os recursos acabam diluídos nas verbas de financiamento à pesquisa). Entre as revistas brasileiras de acesso aberto, a prática não é rotineira.
“Ainda dependemos de fundos da universidade e das agências de fomento para arcar com os custos de secretaria, edição, impressão”, disse Kenneth Camargo. “Enquanto não equacionarmos como isso vai funcionar, não está muito claro qual modelo econômico seguiremos no futuro. Mas não dá para ser esse modelo oligopolista.”
Soluções como o arXiv, repositório público de artigos muito usado por pesquisadores das ciências exatas, estão entre as mais citadas pelos críticos como possível modelo alternativo ao atual. Ernesto Galvão aposta num modelo como esse para o futuro da publicação científica, desde que o sistema tenha um mecanismo de validação da qualidade dos artigos. “Acredito que outros modelos para publicação são possíveis, que combinem algum tipo de julgamento por pares e um baixo custo de disseminação”, disse o físico.
Em defesa da Elsevier
A editora divulgou no início do mês um comunicado não assinado em que defende que as editoras são necessárias para o bom funcionamento da ciência. “Sem as editoras e os revisores, os 3 milhões de artigos enviados todo ano às revistas científicas não seriam transformados no 1,5 milhão de artigos publicado todo ano”, diz o comunicado. “Os pesquisadores funcionam de forma mais eficiente e efetiva por causa do valor agregado por todos nós através dos processos de publicação.”
O economista David Stern, editor da revista Ecological Economics, publicada pela Elsevier, também saiu em defesa da editora em seu blog. Para ele, não faz sentido o argumento segundo o qual pagar pelos artigos científicos significa pagar em dobro pela ciência que já havia sido financiada com recursos públicos. “A Elsevier é como o Walmart, eles distribuem o produto e isso custa dinheiro”, afirmou Stern. “Não vejo por que usar dinheiro público para pagar à PLoS para publicar um artigo seja moralmente melhor do que usá-lo para que uma biblioteca universitária assine um periódico. Os custos têm que ser pagos de uma forma ou de outra.”
Correção: é mais preciso definir a Elsevier como um grupo multinacional sediado na Holanda do que como uma editora holandesa, como afirmava a primeira versão do post. O texto foi atualizado em 10/02/2012 para retificar essa informação.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O verdadeiro poder das bibliotecas


Revista Piauí, n. 65, fev. 2012 – seção Esquina p. 8-9.

Livros brotam no sertão
Na Bahia, o povoado com a maior taxa de exemplares por habitante do Brasil
por Rodrigo Sombra

O povoado de São José do Paiaiá, no sertão baiano, tem 500 moradores, igreja, escola, praça e duas ruas. “Na de cima, mora a elite; na de baixo, a classe trabalhadora”, descreveu o historiador Geraldo Moreira Prado, 71 anos, o filho mais ilustre e ilustrado da terra. De cada dez habitantes de Paiaiá, três são analfabetos. Metade da população vive na pobreza, com renda de pouco mais de 200 reais por família a cada mês. Quatro famílias formam a elite local.

Numa região de casas geminadas, ruas de pedra e terra, poucos empregos e quase nenhum saneamento, a soberba taxa de 200 livros por habitante – a média nacional não chega a cinco – é a obra local mais frondosa, graças à Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado. Está sediada em um rudemente majestoso prédio de três andares, o único daquela área da caatinga. Já foi apelidado de “Empire State of Paiaiá”, reunindo os quase 100 mil livros, segundo a contagem oficial, da autodeclarada “maior biblioteca rural do mundo”.

Geraldo Moreira Prado alfabetizou-se aos 10 anos, tendo livros de cordel como cartilha. Pisou pela primeira vez numa biblioteca aos 14. Aos 21, mudou-se para São Paulo. Foi a princípio para trabalhar, mas acabou cursando história e depois letras na USP. Militou no movimento estudantil, no qual se especializou na fabricação de coquetéis molotov para serem lançados contra os agentes da ditadura durante os protestos de 1968. Amargou quatro detenções por perturbação da ordem e propagação de ideias comunistas. Mudou-se para o Rio, onde se doutorou em desenvolvimento agrário, virou professor universitário e pesquisador.

Casou-se. E depois se descasou, momento em que viu a necessidade de se desfazer de uma coleção de então 30 mil livros. Tentou vendê-la, mas sebo nenhum quis lhe pagar a contento. Pensou em doá-la para uma universidade pública, mas as tratativas não caminharam bem. Lembrou-se da querida terra natal, São José do Paiaiá, um povoado do município de Nova Soure, a 250 quilômetros de Salvador.

Contatou um sobrinho adolescente morador de Paiaiá, alugou uma casa e despachou a primeira leva de 10 mil livros, transportados num caminhão. Passava das quatro e meia da manhã quando José Arivaldo Prado – o sobrinho de Geraldo, conhecido como Vadinho – deixou o forno da padaria onde trabalhava para assistir ao desembarque dos livros. Juntou gente para acompanhar a novidade. As primeiras centenas de volumes foram abrigadas na garagem da casa alugada.

O sucesso da operação estimulou um segundo lote de livros, algo perto dos 12 mil exemplares. Mas a vizinhança fora alertada pelo Jornal Nacional sobre um furto de obras raras ocorrido em 2003 na Biblioteca do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, a mais de 1 700 quilômetros dali. Quando uma senhora assistiu à chegada de mais livros – itens raros no sertão –, tratou de denunciar à polícia, convicta de que se tratava das obras furtadas do Itamaraty que vira na televisão.

Desfeito o equívoco, a recém-transferida biblioteca teve de enfrentar o pároco local, ouriçado pela procura de obras como Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado. Abriu o sermão numa manhã de domingo advertindo os fiéis sobre a maledicência dispersa nas estantes de aço pecaminosas da casa vizinha à paróquia. Apesar das resistências religiosas e policiais, os demais livros foram enviados pouco a pouco. A biblioteca comunitária ganhou vida e foi batizada com o nome de uma tia do historiador que se dedicara a lecionar no povoado, professora de formação autodidata que era.

A biblioteca cobra 1,50 real de mensalidade, com direito a carteira de leitor associado. As doações foram aumentando e houve necessidade de mais espaço, o que obrigou a construção do “Empire State”. Vadinho, o bibliotecário improvisado, crescido entre tantos livros, abandonou a padaria, cursou letras e descobriu-se poeta. “Escrevo poemas, mas só sobre gatos”, disse.

Cajueirinho, Carrapatinho, Pau de Colher, Cabeleiro e Melancia são povoados vizinhos que mandam alunos para a escolinha de xadrez, para o ateliê de pintura ou para cursos como “Higienização e acondicionamento do acervo Professor Geraldo Prado”, oferecido em dois módulos.

A organização das estantes às vezes surpreende. A Divina Comédia divide prateleira com aMetodologia Aplicada à Administração. Elogio da Sombra, de Jorge Luis Borges, é vizinho deInternet Truques Espertos: Segredos Inteligentes Revelados. A biblioteca possui alguns volumes raros, como a primeira edição de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, de 1933, e as obras completas de Molière, com data de impressão de 1732.

Sem apoio da prefeitura de Nova Soure, dependente dos inconstantes repasses do programa do Ministério da Cultura, a biblioteca é deficitária e recebe colaborações de bom grado.

No ano passado, o crítico literário Antonio Candido, ex-professor de Geraldo Prado na USP, doou títulos de seu acervo pessoal para os moradores de Paiaiá. Acompanhava o envio dos livros uma carta de saudação, emoldurada e colocada em destaque no interior da biblioteca. “Venho por meio desta comunicar-lhe que despachei dez caixas contendo livros e alguns opúsculos, no total de 300 unidades, que constituem uma doação à Biblioteca Comunitária”, datilografou o crítico, em um papel azul, devidamente corrigido à caneta e assinado.

“Informado há tempos a respeito dela por nossa amiga Walnice Nogueira Galvão (que aliás teve a gentileza de me acompanhar à empresa transportadora), avaliei desde logo o alcance e a importância dessa obra cultural, devida à sua iniciativa generosa e clarividente; e tencionei colaborar de algum modo, o que faço agora com prazer e é a oportunidade de manifestar a minha admiração pelo seu trabalho.”

Outra frase atribuída a Antonio Candido já havia sido estampada na fachada da biblioteca. Em azul, lia-se: “O socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo.” “Eu ia até botar uma do Marx, mas aí achei que já era dar muita bandeira”, acautelou-se Geraldo Prado. Na última reforma da biblioteca, um pintor conhecido como Magnata fez pouco caso da encomenda – repintar o que ali já estava e adicionar uma proverbial citação de Che Guevara. Pediu um adiantamento pela primeira demão de tinta, embolsou o dinheiro e sem aviso prévio comprou um bilhete só de ida para São Paulo, deixando a fachada da Biblioteca Maria das Neves branca como lhe sugere o nome.

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Conheço o professor Geraldo desde criança, considero-o o meu pai intelectual, sendo assim, conheço também boa parte da história da biblioteca, inclusive por ter encaixotado boa parte desses itens.

Numa conversa com o professor ele me disse que além dos fatos mencionados na reportagem, a biblioteca fez o comércio local se desenvolver, com o surgimento de lanchonetes para alimentar aqueles que tem fome de leitura... A cidade vem se tornando um pólo de cultura no interior baiano e pessoas, até mesmo de Salvador (que na posição de capital, espera-se que tenha acervos mais completos), vão à biblioteca em busca de itens que possam satisfazer suas necessidades.


Sendo assim, aí reside o verdadeiro poder das bibliotecas, de causar mudanças, de criar e modificar espaços, enfim, de modificar estruturas, sejam elas quais forem...


Fico honrado de poder ter visto o nascimento da biblioteca e estar acompanhando a sua evolução. Ah, professor, não esqueci que tô devendo uma visita não, hein.

PS: para saber mais sobre a história do professor Geraldo visite a Biblioo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Bibliotecas e cemitérios

Estranho o título do post, não???

Por que afinal resolvi fazer um post com esse título? Bom, tenho feito muitas leituras, principalmente em função da dissertação. Hoje, estava lendo o livro "O poder das Bibliotecas" e me deparei com a informação de que algumas bibliotecas, até o advento bibliográfico do século XVII, organizavam suas coleções de acordo com os  antigos proprietários desta, mantendo sua integridade bibliográfica (no sentido amplo e não restrito apenas a livros). Fiquei mais interessando ainda pelo texto quando achei a citação de uma lei chamada de "Lei da boa vizinhança", somente citada por um autor, que não me recordo qual. De imediato lembrei-me de algumas brincadeiras que fazia em conjunto com outros estagiários quando trabalhávamos na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, onde as coleções são ordenadas de acordo com a sua origem, ou como chamam os arquivistas, procedência. Assim, a Coleção do Lima Barreto, reúne a documentação que pertenceu ao escritor, bem como a de Martins Pena, Gustavo Corção etc.

Porém, sempre fazíamos uma ressalva, que algumas coleções não podiam ficar ao lado de outras, pois tais personalidades eram desafetos na vida pública, claro que falávamos em tom jocoso, até mesmo pelas localização dos itens já estarem consagradas há décadas. Enfim, mesmo que não no mesmo sentido utilizado no texto, buscávamos fazer valer a "Lei da boa vizinhança".

Voltando à situação dos acervos serem organizados de acordo com a sua procedência, o mesmo texto menciona que a partir do advento Bibliográfico, a classificação foi largamente implementada e tal organização caiu em desuso.

Por incrível que pareça, a representação que me veio a mente foi a de um cemitério, sobretudo, ao lembrar-me de uma igreja na República Tcheca, que tem sua decoração feita a partir de osso humanos. A Igreja da cidade de Kutná Hora (http://www.kostnice.cz/).


A história diz que durante umas das muitas pestes e guerras enfrentadas pela Europa, não havia mais locais no cemitério para enterrar mais corpos, então os que já estavam lá há anos ou séculos foram exumados e guardados na igreja que fica ao centro do cemitério. Alguns anos depois a decoração de toda a igreja, incluindo o mobiliário foi feita com os ossos dos exumados.

Tá, mas o que isso tem a ver com livros? Bom, vamos viajar um pouco: as coleções, quando ordenadas de acordo com a ordem dada por seu antigo custodiador constitui-se no seu corpo, numa analogia com os cemitério. Com o advento das Bibliografias, várias dessas coleções foram desmembradas, bem como os ossos das igrejas e reordenadas sob novos critérios, bem como, de novo, os ossos... Assim, novas configurações foram dadas aos itens colecionados, sejam por Igrejas, Cemitérios ou Bibliotecas.

Considerei legal compartilhar com vocês essa viagem sóbria, já que como defensor da totalidade das coleções (porém, não cego, pois sei das dificuldades que permanecer a íntegra das coleções acarreta, entretanto, não entrarei no mérito). Creio que daí evoluem os estudos sobre biblioteca, informação, arquivos, acervos, museus, das viagens com os pés no chão que realizamos. E uma curiosidade é que os cemitérios são ótimos locais para se começarem as pesquisas...

PS: Nenhuma droga, bebida ou derivados foi utilizada durante a leitura ou construção do texto.
PS 2: o texto pode ter certas incoerências pois o cansaço aflige a mente do ser que vos escreve.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Causos de Biblioteca

Bom, pra descontrair um pouquinho vou contar um causo que aconteceu comigo quando era estagiário:

Certo dia, um senhor por ironia, ou não, português, chegou à biblioteca na qual eu estagiava e pediu para consultar uma lista com cerca de 1000 documentos, nada além disso... Ainda perguntei se ele desejava filtrar a pesquisa, mas ele disse que já havia feito isso... Expliquei para ele que o máximo permitido por dia eram de 15 documentos.

Ele argumentou que queria ver os mais de 1000 documentos (O.O) naquela tarde porque viajaria no dia seguinte... Repito, cerca de 1000 - Mil - M - documentos! Tendo em vista esse fato, esclareci que a chefe estava em horário de almoço, mas que quando ela voltasse poderia autorizá-lo a consultar mais documentos além dos 15 permitidos para o dia. Porém, por hora, era pra ele pedir os 15 para e ir consultando até a chefe chegar.

Ele insistiu e disse que queria ver os 1000... Novamente, com toda a minha paciência, expliquei que ele poderia, naquele momento, consultar até 15 e que quando a chefe chegasse, algo que já estava para acontecer, ele poderia solicitar à ela a consulta aos outros.

Novamente ele insiste que quer ver os 1000 documentos e que precisava ver naquela tarde porque iria viajar no dia seguinte... Eu, com a minha paciência já no limite, afinal, eu estava falando português e ele também, expliquei o procedimento novamente...

E ele, já se exaltando me pede para ver todos os documentos... Nesse momento, com toda a minha educação e respeito, peguei o meu crachá, mostrei ao senhor e falei: "O senhor consegue ler aqui? Aqui diz 'estagiário', logo não posso fazer muito além do que já fiz pelo senhor...". No que ele responde: "Ah sim, mas será que enquanto a chefe não chega eu poderia ir consultando alguns documentos?...". PQP!!!! FUUUUUUUUUUUUUU ¬¬


É amigos, realizar o serviço de referência numa biblioteca não é uma tarefa simples, devemos nos fazer entendíveis e, sobretudo, entender o que desejam. Afinal, nossa função é guiar os usuários em busca da informação que desejam, mas que as vezes dá vontade de matar um, isso dá...

Em outra ocasião, um usuário (desta vez jovem, com seus vinte e poucos) foi consultar sobre Censos realizados pelo império, instrui-o a como consultar a base de dados e tal, no que vejo ele pesquisando por Senso. Querendo ajudá-lo fui questionar se ele desejava Censos demográficos etc, que são com 'C', ele me respondeu que sabia o que queria e que não precisava de auxílio. Diante de tal resposta baixei minhas orelhas e recolhi-me à minha insignificância, afinal, ele "sabia o que queria"... Nesse caso, faltou ao usuário a humildade de aceitar uma ajuda ou uma dica, fazer o que? Infelizmente, ele foi embora sem achar o que desejava... Mas...

Cabe ressaltar que citei dois casos onde os usuários não sabiam muito bem o que desejavam, porém, é bom lembrar, que nós, bibliotecários e profissionais da informação, também cometemos nossos erros e não podemos nos colocar nunca numa situação de intelecto superior, afinal, ter humildade e saber reconhecer suas limitações faz parte das negociações entre os profissionais da informação e os usuários...

O Grogan em seu livro "A Prática do Serviço de Referência" faz boas considerações sobre tais situações, é um bom livro, mas deve ser lido com uma visão crítica para evitarmos ufanismos...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Biblioteca

No sábado, dia 07, saiu uma matéria bem legal sobre a Biblioteca Pública de Niterói no jornal O Globo, vejam:

Biblioteca Pública de Niterói se firma como local de lazer

Pra ilustrar, fotos da faixada e do interior da Biblioteca: