quarta-feira, 15 de junho de 2011

Liberar ou restringir? A problemática da legitimação da memória

Duas reportagens bem legais sobre a temática de abertura de arquivos foram veiculadas no jornal da Globo do dia  13 de junho. As matérias são essas:


"Documentos da época da ditadura estarão disponíveis na internet".

E

"Governo retira caráter de urgência da votação do projeto sobre acesso a dados públicos".

Dar acesso e negar acesso, essas são as temáticas das duas reportagens respectivamente. A primeira mostra como a memória de um povo, no caso o brasileiro, pode ser salva graças a pequenos atos que visam preservar parte da história do social. Mesmo que sejam fragmentos, tais relatos já nos servem de meio para pelo menos recontar parte da história. Não lembro ao certo, mas Baudrillard ou Benjamin nos fala que a reconstrução da história geralmente é quase perfeita, só não a é porque advém de fragmentos e esses nada mais são do que partes incompletas.

Porém, não contar com o todo é uma coisa, outra totalmente diferente é ter o todo e não poder ter acesso a ele, como é o caso do tema da segunda reportagem, na qual uma proposta do Senador e ex-Presidente José Sarney, visa classificar documentos como secretos durante o tempo que ele existir!

Parece absurdo, e é, como diz o Ancelmo Góis, parece-me algo como tortura misturado com humor negro, afinal, o que o (FDP) ilustre senador quer fazer é não nos dar acesso ao que por direito é nosso, a história e memória do Brasil e de suas instituições.

Já não basta a briga entorno dos arquivos da ditadura, se devem ou não ser liberados para consulta? E a questão, na minha visão, é bem política: como permitir acesso a documentos que provam que grandes autoridades brasileiras ainda vivas apoiaram o golpe ou ajudaram a matar milhares de pessoas? A conclusão que tiro é que só liberarão o acesso quando todos os envolvidos estiverem mortos e nenhum responsável possa mais ser julgado por seus atos. Nada mais cômodo do que construir, a seu modo, a história, sem que várias memórias conflitantes possam discordar, opinar, discutir, enfim, fazer o seu papel que é dar subsídios para a construção da história. E o que nos restará será, talvez, a idéia de Revolução e não de Golpe, ou seja, a história dos Oficiais...

Fiquemos atentos, pois, na minha visão, no mundo todo os países onde foram instauradas ditaduras foram atrás dos fatos reais, nem sempre oficiais, e os puniram aqueles que cometeram crimes, torturaram, mataram, roubaram, enfim, promoveram as maiores atrocidades. Foi assim com Pinochet no Chile, e por que não pode ser no Brasil? Ah, talvez seja porque somos um país sem memória...

PS: o texto acima é criação minha e eu assumo o que disse!
PS 2: O Arquivo Nacional tem um projeto interessante, o Memórias Reveladas, vale a pena conferir. Inclusive o lema do projeto é "Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça" - Frase brilhante essa!

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