quarta-feira, 4 de julho de 2012

Para que serve a ciência afinal?*



"Dizer que alguma coisa é boa ou má, melhor ou pior, é dar um julgamento humano. Só um homem pode dizer que uma coisa é boa ou má – e não se discute. Nenhum procedimento científico pode conter uma resposta sobre a relativa desejabilidade de uma coisa. [...] É nesse sentido que a ciência é neutra. Não é neutra por haver alguma virtude essencial em ser neutra. É simplesmente a natureza da ciência, que está em testar relações empíricas entre fenômenos ou variáveis – e, para fazer isso, exige que o fenômeno seja de natureza a ser observado, manipulado ou medido” (KERLINGER, Fred N.. Metodologia da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: EDUSP, 1980).

Alguns teóricos defendem que a ciência seria uma forma de saber neutro, uma vez que ela descreveria fatos e explicaria fenômenos objetivos, sem emitir juízos de valor ou crenças e opiniões dos próprios cientistas. No entanto, nos dias atuais, essa suposta neutralidade é criticada, uma vez que entendemos que toda a ciência está inserida em um contexto sócio histórico e sofre pressões e influências dos setores políticos, econômicos, religiosos, além da própria sociedade civil.
O ser humano nasce inquieto e sua existência se condiciona aos acontecimentos que se submete ou de seus atos volitivos. Aquela se confronta com a realidade e, estes com a percepção da mesma. Sua inquietude naturalmente persegue o alcance da área de conforto, da segurança, do controle, da linha tênue que margeia a ociosidade.
A ciência é algo prático e dinâmico decorrente de uma curiosidade e da predisposição de deixar uma contribuição do conhecimento humano. Esse “algo” envolve perguntas e respostas que são capazes de desafiar conhecimentos construídos e/ou consolidados e por sua vez geram prazer e dor, integração e contribuição, esforço e satisfação em atingir alguma meta. A ciência é como um conhecimento que auxilia a explicar o mundo e, ao mesmo tempo, como uma forma de produção coletiva, que está sintonizada com a cultura e as ideias do ser humano no seu contexto histórico-social.
Le Coadic (2004 p.26) afirma que “a informação é a seiva da ciência e sem informação ela não pode se desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e não haveria o conhecimento”.
Buckland (1991) propõe que o fenômeno informação seja trabalhado a partir da escolha do conceito mais apropriado a observação que se dirigi sobre o objeto de pesquisa, o que viabiliza uma imensa possibilidade de investigação.
Assim, sendo a informação o corpo central do estudo da Ciência da Informação como uma disciplina interdisciplinar que está aberta para dialogar com outras disciplinas do conhecimento, a dissertação de mestrado na área terá como tema o patrimônio arquivístico (informação arquivística), cujo objetivo geral é compreender o alcance e os limites da intervenção do Estado brasileiro na proteção do patrimônio arquivístico do país para responder quais as medidas promovidas pelo Estado para sua proteção e quais as lacunas existentes que impedem a eficácia dessas medidas.
Reconhecendo o caráter incipiente da pesquisa tendo em vista a “deficiência” de políticas públicas de informação arquivística, em razão do arcabouço legal existente fornecer os meios para efetivação da proteção do patrimônio arquivístico, contudo não a garantia de sua ideal e efetiva aplicação e fiscalização, fazer ciência é necessário e inevitável.
Se o arcabouço legal existente não é por si só o único caminho para garantir a proteção, acesso e preservação da memória pública brasileira invita-se ampliar as discussões sobre o tema, pois o patrimônio arquivístico é merecedor de um processo de difusão arrojado com a participação de atores de diversas áreas do conhecimento, não somente do Estado, mas da sociedade, pois, qualquer instituição está vulnerável a fatores de risco de toda natureza fragilizando gradativamente sua proteção.
Assim, comungo com Tomanik: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la.”.

REFERÊNCIAS

BUCKLAND, Michael K. Information as thing. Journal of the American Society for information Science, v. 42. n. 5. p. 351-360, 1991.

LE COADIC, Yves-François. A Ciência da Informação. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.

TOMANIK, Eduardo A. O olhar no espelho: “conversas” sobre a pesquisa e Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004. 2 ed.

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Mais uma contribuição da nossa companheira de orientação no mestrado, Cristiane Basques.

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