"Dizer que
alguma coisa é boa ou má, melhor ou pior, é dar um julgamento humano. Só um
homem pode dizer que uma coisa é boa ou má – e não se discute. Nenhum
procedimento científico pode conter uma resposta sobre a relativa desejabilidade
de uma coisa. [...] É nesse sentido que a ciência é neutra. Não é neutra por
haver alguma virtude essencial em ser neutra. É simplesmente a natureza da
ciência, que está em testar relações empíricas entre fenômenos ou variáveis –
e, para fazer isso, exige que o fenômeno
seja de natureza a ser observado, manipulado ou medido” (KERLINGER, Fred N..
Metodologia da pesquisa em ciências
sociais. São Paulo: EDUSP, 1980).
Alguns teóricos
defendem que a ciência seria uma forma de saber neutro, uma vez que ela
descreveria fatos e explicaria fenômenos objetivos, sem emitir juízos de valor
ou crenças e opiniões dos próprios cientistas. No entanto, nos dias atuais,
essa suposta neutralidade é criticada, uma vez que entendemos que toda a
ciência está inserida em um contexto sócio histórico e sofre pressões e
influências dos setores políticos, econômicos, religiosos, além da própria
sociedade civil.
O ser humano nasce
inquieto e sua existência se condiciona aos acontecimentos que se submete ou de
seus atos volitivos. Aquela se confronta com a realidade e, estes com a
percepção da mesma. Sua inquietude naturalmente persegue o alcance da área de
conforto, da segurança, do controle, da linha tênue que margeia a ociosidade.
A ciência é algo
prático e dinâmico decorrente de uma curiosidade e da predisposição de deixar
uma contribuição do conhecimento humano. Esse “algo” envolve perguntas e
respostas que são capazes de desafiar conhecimentos construídos e/ou
consolidados e por sua vez geram prazer e dor, integração e contribuição,
esforço e satisfação em atingir alguma meta. A ciência é como um conhecimento
que auxilia a explicar o mundo e, ao mesmo tempo, como uma forma de produção
coletiva, que está sintonizada com a cultura e as ideias do ser humano no seu
contexto histórico-social.
Le Coadic (2004 p.26)
afirma que “a informação é a seiva da ciência e sem informação ela não pode se
desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e não haveria o
conhecimento”.
Buckland (1991) propõe que
o fenômeno informação seja trabalhado a partir da escolha do conceito mais
apropriado a observação que se dirigi sobre o objeto de pesquisa, o que viabiliza
uma imensa possibilidade de investigação.
Assim, sendo a
informação o corpo central do estudo da Ciência da Informação como uma
disciplina interdisciplinar que está aberta para dialogar com outras
disciplinas do conhecimento, a dissertação de mestrado na área terá como tema o
patrimônio arquivístico (informação arquivística), cujo objetivo geral é compreender
o alcance e os limites da intervenção do Estado brasileiro na proteção do patrimônio
arquivístico do país para responder quais as medidas promovidas pelo Estado
para sua proteção e quais as lacunas existentes que impedem a eficácia dessas
medidas.
Reconhecendo o caráter
incipiente da pesquisa tendo em vista a “deficiência” de políticas públicas de
informação arquivística, em razão do arcabouço legal existente fornecer os
meios para efetivação da proteção do patrimônio arquivístico, contudo não a
garantia de sua ideal e efetiva aplicação e fiscalização, fazer ciência é
necessário e inevitável.
Se o arcabouço legal
existente não é por si só o único caminho para garantir a proteção, acesso e
preservação da memória pública brasileira invita-se ampliar as discussões sobre
o tema, pois o patrimônio arquivístico é merecedor de um processo de difusão
arrojado com a participação de atores de diversas áreas do conhecimento, não
somente do Estado, mas da sociedade, pois, qualquer instituição está vulnerável
a fatores de risco de toda natureza fragilizando gradativamente sua proteção.
Assim, comungo com
Tomanik: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por
isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso
tentamos modificá-la.”.
REFERÊNCIAS
BUCKLAND, Michael K. Information as thing. Journal of the American Society for
information Science, v. 42. n. 5. p. 351-360, 1991.
LE
COADIC, Yves-François. A Ciência da
Informação. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.
TOMANIK,
Eduardo A. O olhar no espelho:
“conversas” sobre a pesquisa e Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004. 2 ed.
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* Mais uma contribuição da nossa companheira de orientação no mestrado, Cristiane Basques.
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