quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Bibliotecas ou depósitos?

Volta e meia nos deparamos com notícias desoladoras sobre acervos achados em meio à escombros, livros raros jogados fora ou destruídos pelo descaso etc.

Ao que parece nós, brasileiros, não ligamos muito para as bibliotecas e à elas atribuímos pouco valor.

Ontem fiquei sabendo, por meio de conversas informais, que a Biblioteca Luiz Viana Filho ou apenas, Biblioteca do Senado terá a sua atual sede no Anexo II do Senado, em Brasília, mudada para um galpão num ponto mais distante - a transferência só não foi confirmada ainda porque um senador pediu vistas ao processo de transferência, creio que por considerar a situação absurda...

A biblioteca do Senado é uma das mais antigas e importantes do país, sua missão é se tornar referência mundial na Biblioteconomia Legislativa e dar suporte às necessidades informacionais dos nossos legisladores. Sua fundação se deu em 1826 e desde então viu sua coleção ser enriquecida por várias doações e aquisição de obras raras e importantes para a memória nacional, após a inauguração de Brasília, deixa para trás o Palácio Monroe no Rio, e vai o Palácio do Congresso, até chegar ao Anexo II.


Ao tirar a biblioteca do Anexo II, a direção já tem ciência de que o cidadão que não trabalha no senado não poderá mais ter acesso às obras que compõem o seu acervo, ou seja, tal fato acarretará que a missão principal da biblioteca, que é de disseminar a informação à todos, não será mais cumprida, ficando seu rico e vasto acervo restrito aos funcionários do Senado e nossos legisladores...

A questão aí, parece ser maior do que realmente parece e tem relação direta com o universo Biblioteconômico, afinal, é responsabilidade de nós, bibliotecários, zelarmos pelas bibliotecas. Porém, o cenário que vemos é seguinte - claro que com algumas exceções.

O Bibliotecário é aquele profissional estigmatizado pelo óculos, roupa fora da moda, cabelo desgrenhado, solteiro, dono de um bicho (geralmente um gato), que adora livros e... Do sexo feminino. Creio que poucos de nós se encaixaram nesse perfil (eu tenho o gato e sou solteiro... M-E-D-O), mas é assim que a sociedade vê os bibliotecários e mais, as bibliotecas são vistas como depósitos de coisas velhas, um local para o castigo e para colocar os incapacitados mentalmente ou fisicamente de continuar suas atividades (vide professores), a biblioteca é o local da poeira, das pessoas chatas, de nerds e coisas retrôs, tipo máquinas de escrever, carimbos e antigos fichários...

Mas será que essa é nossa realidade atual? Creio que não, mas por que nossos chefes, administradores, gestores, enfim, continuam a pensar assim?

Pode ser impressão minha, mas creio que seja porque nós, bibliotecários, não nos impomos como aquele capaz de levar qualquer um à informação que deseja. Nos satisfazemos em ser citados nas páginas de agradecimentos, quando na verdade deveríamos também fazer parte das páginas de referência! Temos que defender "nossas" bibliotecas com unhas, dentes, livros e poeira! Afinal, fomos preparados para saber o que de melhor uma biblioteca pode oferecer, desenvolver suas potencialidades, criar produtos e serviços e integrar as bibliotecas ao conceito tecnológico do século XXI.

Será que nossas bibliotecas não estão da forma que estão porque não nos empenhamos em defendê-las? Na maioria das vezes temos medo do que um enfrentamento pode representar, mas acho que devemos ao menos tentar.

Eu tentei defender a minha biblioteca, reafirmei perante todos o meu juramento: "Prometo tudo fazer para preservar o cunho liberal e humanista da profissão de Bibliotecário, fundamentado na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana" e assim briguei e continuarei brigando para fazer uma Biblioteconomia melhor e mais ativa, afinal... É uma verdade que me orgulho de ser Bibliotecário e isso vale muito, mas muito mesmo!

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